A desigualdade social é sempre tema de muito debate e muitas
polêmicas. Muitas vezes o rico é visto como o mal, aquilo a ser evitado, porque
dele advém centenas de pobres, como se seu acumulo de riqueza fosse a causa do
sofrimento e da pobreza. Esta é uma visão muito superficial e generalizada.
Os Espíritos tratam do assunto, no O Livro dos
Espíritos no capítulo Lei da Igualdade.
Na questão 806 Kardec pergunta se a desigualdade das
condições sociais é uma lei natural e os Espíritos assim respondem: “-Não; é
obra do homem e não de Deus”. Isto nos mostra que dizer que alguém nasceu em
uma condição social indesejada não foi uma escolha de Deus, não está cumprindo
algum castigo. Quando pensamos assim associamos a riqueza e a condição social a
um privilégio moral, os bons receberão riquezas e os ainda ignorantes (a quem
comumente chamamos de MAUS) sofrerão na pobreza.
Esta é geralmente as visões que encontramos nos vários
discursos: Os que sofrem acreditam que a causa é a avareza dos ricos e os mais
afortunados acreditam que a riqueza é uma benção de Deus.
Kardec perguntou (808) se a desigualdade das riquezas não
teria origem nas desigualdades das faculdades individuais, e os Espíritos
disseram que sim e não porque o astuto e aquele que rouba acumulam riqueza sem
necessariamente estar ligado à faculdade.
Devemos lembrar que as respostas foram dadas em torno de 1857, numa
época em que Darwin apresentava a sua teoria da Evolução das Espécies e desta
forma a inteligência, a capacidade e as habilidades eram consideradas heranças
genéticas. Neste período acreditava-se que a razão existia em todos os animais,
porém a qualidade desta razão tinha uma origem genética e evolutiva segundo a
teoria de Darwin.
Kardec questiona (811)ainda se é possível existir ou se já
existiu algum dia a igualdade absoluta de riquezas e aqui podemos ver uma
possível influência do Manifesto Comunista de Karl Marx que publicou em 1848
pouco antes da Revolução Francesa. “O Manifesto Comunista faz uma dura crítica
ao modo de produção capitalista e à forma como a sociedade se estruturou
através dele. Busca organizar o proletariado como classe social capaz de
reverter sua precária situação”.(Wikipedia) Os Espíritos respondem que: “- Não,
não é possível. A diversidade das faculdades e dos caracteres se opõe a isso”.
Então Kardec, não satisfeito, questiona que há homens que acreditam este ser o
remédio para a desigualdade social. Eles então respondem: “- São sistemáticos
ou ambiciosos e invejosos. Não compreendem que a igualdade seria logo rompida
pela própria força das coisas. Combatei o egoísmo, pois essa é a vossa chaga
social, e não correi atrás de quimeras”. Observando na resposta que quimera não
está com a inicial maiúscula não é o nome do monstro lendário, mas está como
sentido figurado significando uma ficção, uma ilusão.
Neste ponto ele apontam a causa primária da desigualdade de
riquezas que seria o egoísmo, que é o oposto do altruísmo ou caridade. Aqui se lembra
da máxima espírita “Fora da caridade não há salvação”. Não quer dizer que se deve
quando possível fazer a caridade, mas que
deve lutar a cada dia para ser menos egoísta,
pois só assim pode ser verdadeiramente
caridoso. E não esta se falando no acumulo de bens materiais, pois isto é
apenas um sintoma. O Egoísmo é antes de mais nada segundo o Michaelis “Atitude
daquele que busca o próprio interesse, acima dos interesses dos demais”.
Isto remete muito forte à atual situação do mundo todo e do
Brasil. Atualmente se fala muito nas possíveis vacinas que estão em processo de
desenvolvimento e é oportuno para compreendermos outro aspecto da desigualdade
de riqueza que foi trazido no O Evangelho segundo o Espiritismo.
No capitulo XVI, Não se pode servir a Deus e a Manon, no
texto da desigualdade de riquezas: “ A desigualdade das riquezas é um dos
problemas que inutilmente se procurará resolver, desde que se considere apenas
a vida atual. A primeira questão que se apresenta é esta: Por que não são
igualmente ricos todos os homens? Não o são por uma razão muito simples: por
não serem igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem
sóbrios e previdentes para conservar. É, aliás, ponto matematicamente
demonstrado que a riqueza, repartida com igualdade, a cada um daria uma parcela
mínima e insuficiente; que, supondo efetuada essa repartição, o equilíbrio em
pouco tempo estaria desfeito, pela diversidade dos caracteres e das aptidões;
que, supondo-a possível e durável, tendo cada um somente com que viver, o
resultado seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para
o progresso e para o bem-estar da Humanidade; que, admitido desse ela a cada um
o necessário, já não haveria o aguilhão que impele os homens às grandes
descobertas e aos empreendimentos úteis. Se Deus a concentra em certos pontos,
é para que daí se expanda em quantidade suficiente, de acordo com as
necessidades”.
O Brasil vai investir 85 milhões na fase 3 da vacina junto
com uma empresa farmacêutica chinesa que também vai investir, e que já investiu
nas fases 1 e 2. Bill Gates além de investir em pesquisas, disse que irá
construir 3 laboratórios para produzir a vacina que for desenvolvida, além de
sugerir comprar a patente junto com a OMS para uma produção global e aberta.
Será que sem estas grandes riquezas acumuladas isto seria possível? Será que
sem elas seria possível estas sentada em uma sala confortável escrevendo este
artigo em um computador pessoal? Provavelmente não existiria esta pandemia
porque talvez não tivéssemos aviões. O problema nunca é o que temos, mas sim o
que fazemos com o que temos. A quantidade é um detalhe sempre passageiro. Se
tem muito pode financiar pesquisas que garantam a sobrevivência de todos, se
tem pouco pode garantir a sobrevivência de uma família. Muito se pedirá àquele a quem muito se
houver dado e maiores contas serão tomadas àquele a quem mais
coisas se haja confiado. (S. LUCAS, 12:47-48.)