domingo, 27 de dezembro de 2009

OS VOTOS DE FELIZ ANO NOVO DE UM ESPÍRITA DE LEIPZIG

Um Espírita de Leipzig fez imprimir, em língua alemã, a correspondência seguinte da qual nos fazemos um prazer dar a tradução.

MEUS DESEJOS A TODO S OS ESPIRITAS E ESPIRITUALISTAS DE LEIPZIG, PELO ANO NOVO

A vós também, que vos chamais materialistas, porque não quereis conhecer senão a matéria, serei tentado de vos enviar meus desejos de felicidade, mas temo que não considerareis isto como um atrevimento de um estrangeiro que não tem o direito de contar-se entre vós.

Ocorre de outro modo com Espiritualistas, que estão sobre o mesmo terreno que os Espíritas no que toca à convicção da imortalidade da alma, de sua individualidade e de seu estado feliz ou infeliz depois da morte. Os Espiritualistas e os Espíritas reconhecem em cada homem uma alma irmã da sua, e por isso me dão o direito de lhes enviar meus votos. Uns e outros agradecem o Senhor pelo ano que vem de se escoar, e esperam que, sustentados por sua graça, terão a coragem de suportar as provas dos dias infelizes, à força de trabalhar em seu aperfeiçoamento, domando suas paixões.

A vós, caros Espíritas, irmãos e irmãs conhecidos e desconhecidos, eu vos desejo particularmente um ano feliz, porque recebestes de Deus, para vossa peregrinação terrestre, um grande apoio no Espiritismo. A religião veio trazer a todos a f é e bem felizes aqueles que a conservaram. Infelizmente, ela está extinta num grande número; é porque Deus envia uma nova arma para combatera incredulidade, o orgulho e o egoísmo que tomam proporções cada vez maiores. Esta arma nova é a comunicação com os Espíritos; por ela temos a fé, porque nos dá a certeza da vida da alma, e nos permite lançar um golpe de vista na outra vida; reconhecemos assim a vaidade da felicidade terrestre, e temos a solução das dificuldades que nos fazem duvidar de tudo, mesmo da existência de Deus.

Jesus disse a seus discípulos: "Teria ainda muitas coisas a vos dizer, mas não poderíeis ainda suportá-las." Hoje, tendo a Humanidade progredido, pode compreendêlas; foi porque Deus nos deu a ciência do Espiritismo, e a prova de que a Humanidade está madura para esta ciência, é que esta ciência existe. É inútil negar e zombar, como outrora foi inútil negar e zombar dos fatos adiantados por Copérnico e Galileu. Então esses fatos eram tão pouco reconhecidos quanto o são agora os do mundo dos Espíritos. Como outrora, os primeiros opositores são os sábios, até o dia em que, vendo-se isolados, reconhecerão humildemente que as novas descobertas, como o vapor, a
eletricidade e o magnetismo, que outrora eram desconhecidos, não são a última palavra das leis da Natureza. Eles serão responsáveis, diante das gerações futuras, por não terem acolhido a ciência nova como a irmã da outras, e de tê-la repelido como uma loucura.

É verdade que ela não ensina nada de novo proclamando a vida da alma, uma vez que o Cristo disto falou; mas o Espiritismo levanta todas as dúvidas e lança uma nova luz sobre esta questão. Guardemo-nos, no entanto, de considerar como inúteis os ensinamentos do cristianismo e de crê-los substituídos pelo Espiritismo; fortaleçamo-nos, ao contrário, na fonte das verdades cristãs, para as quais o Espiritismo não é senão uma nova bandeira, a fim de que nossa inteligência e nosso orgulho não nos desviem. O Espiritismo nos ensina, antes de qualquer coisa, que: "Sem o amor e a caridade, não há felicidade", quer dizer que é preciso amar seu próximo como a si mesmo; apoiando-se sobre esta verdade cristã, abre o caminho para o cumprimento desta palavra do Cristo: "Um só rebanho e um só pastor."

Assim, pois, caros irmãos e irmãs espíritas, permiti-me que aos meus votos para o ano novo eu acrescente ainda este pedido: que não medireis jamais o poder de se comunicar com o mundo espiritual. Não nos esqueçamos de que, segundo a lei sobre a qual repousam nossas relações com os Espíritos, os maus não são excluídos das comunicações. Se é difícil constatar a identidade de um Espírito que não conhecemos, é fácil distinguir os bons dos maus. Estes podem se esconder sob a máscara da hipocrisia, mas um bom Espírita os reconhece sempre; é porque não é preciso se ocupar dessas coisas levianamente, porque pode-se tornar-se o joguete de Espíritos maus, embora inteligentes, como são encontrados, às vezes, no mundo dos encarnados. Se compararmos nossas comunicações com aquelas que são obtidas nas reuniões de Espíritas fervorosos e sinceros, saberemos logo reconhecer se estamos no bom caminho. Os Espíritos elevados se fazem reconhecer pela sua linguagem, que é por toda parte a mesma, sempre de acordo com o Evangelho e a razão humana.

O meio de se preservar dos maus Espíritos é, primeiro, fazer uma prece sincera a Deus; segundo, não empregar jamais o Espiritismo para as coisas materiais. Os maus Espíritos estão sempre prontos a satisfazer a todos os pedidos, e se, às vezes, dizem coisas justas, o mais freqüentemente, enganam com intenção ou por ignorância, porque os Espíritos inferiores não sabem mais do que durante sua existência terrestre. Os bons Espíritos nos ajudam, ao contrário, em nossos esforços para nos melhorar, e nos fazem conhecer a vida espiritual, a fim de que possamos assimilá-la à nossa. Tal é objetivo para o qual devem tender todos os Espíritas sinceros.

Adolf, conde PONINSKI.
Leipzig, 1°de janeiro de 1868.


Revista Espírita, 1868, Allan Kardec

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