terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Origem do Corpo Humano

 

 

Um amigo, após ler o texto Meu Olhar sobre o Tom Azul, me indicou a leitura de um texto da Revista Reformador que falava exatamente sobre um tema abordado. O tema seria a colocação de Divaldo sobre os primeiros espíritos encarnarem em antropóides, símios semelhantes ao homem.

 

A Reportagem "Evolução do homem na Terra" tem suas idéias baseadas principalmente de um trecho da A Gênese, do capítulo Gênese Espiritual (XI), que transcrevo abaixo entre aspas:

 

"Hipótese sobre a origem do corpo humano."

 

"15. - Da semelhança, que há, de formas exteriores entre o corpo do homem e o do macaco, concluíram alguns fisiologistas que o primeiro é apenas uma transformação do segundo. Nada aí há de impossível, nem o que, se assim, for, afete a dignidade do homem. Bem pode dar-se que corpos de macaco tenham servido de vestidura aos primeiros Espíritos humanos, forçosamente pouco adiantados, que viessem encarnar na Terra, sendo essa vestidura mais apropriada às suas necessidades e mais adequada ao exercício de suas faculdades, do que o corpo de qualquer outro animal. Em vez de se fazer para o Espírito um invólucro especial, ele teria achado um já pronto."

 

"Vestiu-se então da pele do macaco, sem deixar de ser Espírito humano, como o homem não raro se reveste da pele de certos animais, sem deixar de ser homem. Fique bem entendido que aqui unicamente se trata de uma hipótese, de modo algum posta como princípio, mas apresentada apenas para mostrar que a origem do corpo em nada prejudica o Espírito, que é o ser principal, e que a semelhança do corpo do homem com o do macaco não implica paridade entre o seu Espírito e o do macaco."

 

"16. - Admitida essa hipótese, pode dizer-se que, sob a influência e por efeito da atividade intelectual do seu novo habitante, o envoltório se modificou, embelezou-se nas particularidades, conservando a forma geral do conjunto (nº.11). Melhorados, os corpos, pela procriação, se reproduziram nas mesmas condições, como sucede com as árvores de enxerto. Deram origem a uma espécie nova, que pouco a pouco se afastou do tipo primitivo, à proporção que o Espírito progrediu. O Espírito macaco, que não foi aniquilado, continuou a procriar, para seu uso, corpos de macaco, do mesmo modo que o fruto da árvore silvestre reproduz árvores dessa espécie, e o Espírito humano procriou corpos de homem, variantes do primeiro molde em que ele se meteu. O tronco se bifurcou: produziu um ramo, que por sua vez se tornou tronco."

 

"Como em a Natureza não há transições bruscas, é provável que os primeiros homens aparecidos na Terra pouco diferissem do macaco pela forma exterior e não muito também pela inteligência. Em nossos dias ainda há selvagens que, pelo comprimento dos braços e dos pés e pela conformação da cabeça, têm tanta parecença com o macaco, que só lhes falta ser peludos, para se tornar completa a semelhante."

 

Kardec é muito claro ao escrever este trecho, afirmou diversas vezes que esta teoria é apenas uma hipótese, e conclui que se na Natureza não há mudanças bruscas, os primeiros homens tinham além do aspecto semelhante aos macacos, também tinham inteligência semelhante.  Contrariando novamente a idéia de que espíritos evoluídos intelectualmente oriundos de Capela teriam encarnado em corpos de antropóides.

 

Pode-se inferir que o Espírito muda o corpo físico, mas sempre indiretamente e este processo é lento e demorado. O espírito através de suas faculdades vai modificando o ambiente em que vive, este ambiente modificado vai estimulando modificações no corpo físico.

 

Por exemplo, o homem enquanto caçador manual necessitava de sua força física e agilidade para garantir sua sobrevivência, nesta época seres com corpos mais frágeis, muitas vezes não sobreviviam ou mesmo não encontravam parceiras para a sua reprodução, este biótipo não era transmitido. À medida que o homem desenvolve um sistema de caça e armazenamento melhor e que exigem menos força física, porém mais astúcia, os homens que são mais fracos encontram uma possibilidade de sobreviverem e de se reproduzirem, passam a transmitir seu biótipo e isto vai ocorrendo gradativamente.

 

Se compararmos nossos corpos atuais com os corpos dos habitantes pré-históricos, iremos notar grandes diferenças, mas a mudança não ocorreu em poucas gerações, nem de uma vez só.

 

Os Espíritos que trouxeram os conceitos da Doutrina Espírita são bem claros: "O princípio das coisas permanece nos segredos de Deus.", provavelmente não conseguiríamos compreender. Mas isto não quer dizer que devemos aceitar e pronto, mas devemos ter o cuidado de dar a uma hipótese, somente o caráter de uma hipótese e não de uma verdade.

 

Claudia C.

 

 

 

 

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Meu Olhar sobre o Tom Azul

Todas as vezes que refletia sobre o tema das crianças índigo, eu ouvia: -"mas Divaldo falou isso, mas Divaldo falou aquilo", como se pelo fato do Divaldo ter falado, o assunto deveria ser aceito e encerrado.

Venho através deste texto, fazer uma reflexão crítica do livro A Nova Geração: A Visão Espírita sobre Crianças Índigo e Cristal, de autoria de Divaldo Pereira Franco com Vanessa Anseloni.

A primeira vez que ousei pensar em voz alta sobre o assunto, escutei a voz firme e agressiva de um amigo inquirindo-me: -"Quem você pensa que é para criticar Divaldo?" Isto me tocou a alma, principalmente por aqueles que ainda não compreendem o espiritismo.

Reproduzo o conselho de São Luís que está no O Evangelho segundo o Espiritismo:

"Por mais legítima confiança que vos inspirem os Espíritos dirigentes de vossos trabalhos, há uma recomendação que nunca seria demais repetir e que deveis ter sempre em mente ao vos entregardes aos estudos: a de pesar e analisar, submetendo ao mais rigoroso controle da razão todas as comunicações que receberdes; a de não negligenciar, desde que algo vos pareça suspeito, duvidoso ou obscuro, de pedir as explicações necessárias para formar a vossa opinião".

Em primeiro lugar deve-se perceber o objetivo do livro, ilustrado pelo título, que é analisar os conceitos de crianças índigo e cristal sob a ótica espírita, pois estes não são conceitos espíritas e sim espiritualistas.

No capítulo 2, Divaldo propõe uma análise sobre a cooperação interplanetária e evolução humana. Neste, ele afirma:

"Aquele planeta da Constelação do Cocheiro havia, portanto, atingido um nível de grande elevação intelecto-moral, mas ainda permaneciam Espíritos belicosos, perversos, que se negavam à obediência e ao amor, comprazendo-se na prática do mal.

Para que não prejudicassem o programa de evolução geral, foram expulsos para um outro planeta, onde tivessem ocasião de aplicar os conhecimentos e sofrer as conseqüências da sua rebeldia – um verdadeiro inferno - reencarnando-se na Terra, exatamente quando os terrícolas se encontravam na fase antropóide.

É curioso notar que os descendentes físicos desses antropóides irão ser animados por Espíritos intelectualizados, que desenvolverão equipamentos orgânicos próprios capazes de expressar com clareza os conhecimentos de que são portadores.

Surgem, então, os descendentes dos primatas, permanecendo, concomitantemente, os antropóides, nos quais continuarão reencarnando-se, nessa organização em desenvolvimento, aqueles Espíritos ainda primários, em face da sua evolução terrícola."

Eu li e reli várias vezes este trecho, tentando compreender melhor. Divaldo afirma que os primeiros espíritos que reencarnaram na Terra vieram todos de Capela. Baseado em que, se faz tal afirmação? Eu particularmente não compreendo este tipo de informação, pois os espíritos que encarnam, ou encarnaram, ou que irão encarnar na Terra vem do mundo espiritual e não de um planeta. Não existe espírito terráqueo, capelino ou marciano, existem apenas espíritos passando por provas na Terra, em Capela ou em Marte. Assim, todos os espíritos que encarnaram até este instante, na Terra, vieram de um único lugar, do mundo espiritual.

Mas há neste trecho, citado anteriormente, outra informação que espero ter sido oriunda da minha má compreensão do texto. Porque este trecho nos diz que estes espíritos encarnaram em macacos e a partir daí desenvolveram os corpos humanos. Para tirar possíveis dúvidas, fui buscar no dicionário o significado da palavra antropóide:

"1. Semelhante ao homem. 2. Pertencente ou relativo aos antropóides. 3. Espécie dos antropóides, grupo de símios catarríneos que compreende os chipanzés, os gorilas e os orangotangos, bem como algumas espécies fósseis. São desprovidos de cauda e ocasionalmente bípedes."

Idéia, equivocadamente, reforçada por Vanessa Anseloni no trecho seguinte:

"A cada reencarnação, o ser espiritual conectado ao seu corpo espiritual (o perispírito) vai se ligando, molécula a molécula, ao novo organismo físico desde a sua primeira célula, a célula ovo, ou zigoto, na concepção. Deste modo, a mente do Espírito a formação do novo corpo via o seu molde fundamental, o perispírito.

A reencarnação tem por finalidade o melhoramento progressivo da humanidade. (Questão 167 de O Livro dos Espíritos, por Allan Kardec). O ser espiritual vai progredindo a cada reencarnação, jamais, regredindo. Por conseqüência, o conceito de metempsicose (reencarnação em corpos de animais) não se sustenta em bases lógicas uma vez que o ser espiritual, em alcançando o patamar do reino hominal, não poderá retrogradar em uma estrutura incompatível com o amadurecimento espiritual-perispiritual do espírito."

Neste trecho Vanessa contradiz o que Divaldo disse, pois se os espíritos já eram evoluídos eles não iriam retrogradar e reencarnar em corpos de animais, seria ir contra a Lei Natural.

No capítulo XI, item 20 da A Gênese, Allan Kardec afirma:

"20. Um fenômeno particular, igualmente assinalado pela observação, acompanha sempre a encarnação do espírito. Desde que este é apanhado pelo laço fluídico que o liga ao germe entra em estado de perturbação; essa perturbação cresce, à medida que o laço se firma e, nos últimos momentos, o Espírito perde toda a consciência de si mesmo de modo que ele nunca é testemunha consciente de seu nascimento. No momento que a criança respira, o Espírito começa a recuperar suas faculdades, as quais se desenvolvem à medida que se formam e consolidam os órgãos que devem servir para sua manifestação."

Como é possível a mente de um espírito em perturbação comandar a formação de um novo corpo?

A questão 167, citada no texto, é a seguinte:

"167. Qual é a finalidade da reencarnação?

- Expiação, melhoramento progressivo da humanidade. Sem isto, onde estaria a justiça?"

Deve-se compreender que o melhoramento progressivo ao qual os espíritos se referem é o progresso intelectual e moral, e não orgânico, e a humanidade não é restrita aos homens encarnados no planeta Terra.

Mais adiante, quase ao final do capítulo Divaldo afirma:

"Por volta de 1972, e mais particularmente por ocasião de 1987, repetimos, o sistema solar está penetrando no cinturão de fótons de Alcione, e uma nova revolução vem-se operando na estrutura psíquica da Terra, quando uma onda de Espíritos dessa dimensão vem promover mudanças sutis na forma orgânica, facilitando o processo de evolução intelecto-moral para que alcance níveis muito mais elevados.

Da vez anterior, a que nos referimos, os exilados em nosso planeta ofereceram ao nosso corpo os equipamentos para a manifestação da inteligência, do raciocínio, da consciência, mantendo, no entanto, os nossos instintos ancestrais. Agora, quando ainda somos instintos, sensações, emoções, desenvolvendo a razão, novos visitantes espirituais, transitoriamente entre nós, para também evoluir, vêm criar uma nova sociedade, porém assinalada pelas conquistas da intuição, da percepção paranormal, dos sentimentos elevados. Eles vêm mudar a estrutura do nosso organismo, facultando-nos instrumentos que nos façam mais perfeitos, mais sábios, menos guerreiros, menos perversos..."

Eu me questiono como o nosso corpo pode nos fazer mais perfeitos, mais sábios, menos guerreiros ou menos perversos?

Na questão 368 e 370, do O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta:

"368. As faculdades dos Espíritos se exercem com toda a liberdade, após a sua união com o corpo?

- O exercício das faculdades depende dos órgãos que lhes servem de instrumentos; elas são enfraquecidas pela grosseria da matéria."

"370. Pode-se induzir da influência dos órgãos uma relação entre o desenvolvimento dos órgãos uma relação entre o desenvolvimento dos órgãos cerebrais e o das faculdades morais e intelectuais?

- Não confundais o efeito com a causa. O Espírito tem sempre as faculdades que lhe são próprias. Assim, não são os órgãos que lhe dão as faculdades, mas as faculdades que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos. "

Kardec afirma ainda na nota a seguir:

"O Espírito, ao encarnar-se, traz certas predisposições, e se admitirmos, para cada uma delas, um órgão correspondente no cérebro, o desenvolvimento desses órgãos será um efeito e não uma causa. Se as faculdades tivessem os seus princípios nos órgãos, o homem seria uma máquina, sem livre arbítrio e sem a responsabilidade dos seus atos. Teríamos de admitir que os maiores gênios, sábios, poetas, artistas, não são gênios senão porque o acaso lhes deu órgãos especiais. De onde se segue que, sem esses órgãos, eles não seriam gênios, e que o último dos imbecis poderia ter sido um Newton, um Virgílio ou um Rafael, se houvesse sido provido de certos órgãos. Suposição que se torna ainda mais absurda quando aplicada às qualidades morais. Assim, segundo esse sistema, São Vicente de Paulo, dotado pela natureza de tal ou tal órgão, poderia ter sido um celerado, e não faltaria ao maior celerado mais do que um órgão para ser um São Vicente de Paulo. Admiti, ao contrário, que os órgãos especiais, se é que existem, são conseqüentes e se desenvolvem pelo exercício das faculdades, como os músculos pelo movimento e nada tereis de irracional. Tomemos uma comparação trivial, por bem se aplicar ao caso. Por certos sinais fisionômicos reconhecereis o homem dado à bebida; são esses sinais que o fazer bêbado, ou é o vício da embriaguez que produz os sinais? Pode-se dizer que os órgãos recebem a marca das faculdades."

Assim, a doutrina espírita nos mostra que ao modificar-se o organismo pode-se até facilitar a manifestação de uma faculdade já existente, mas jamais irá promover qualquer transformação no espírito, principalmente quanto ao aspecto moral. Nada nem ninguém pode melhorar um espírito a não ser ele mesmo.

No capítulo 3, Divaldo fala a respeito das crianças índigo. Diz ele:

"Portanto, asseveram os Espíritos nobres que a nova geração é que vai desenvolver o lado direito do nosso cérebro, o lado intuitivo, mediúnico, a área das percepções psíquicas. Essa geração que se está formando vem sendo chamada de geração de crianças índigo, em razão de serem seres especiais que emitem, em suas auras, uma irradiação com uma tonalidade azul-violeta específica, igual à índigo, que é encontrada em uma planta na Índia."

Vanessa ainda complementa a idéia com o trecho seguinte:

"A aura das crianças índigo projeta tonalidade azul-violácea, o que denota o nível de sua evolução. Quanto mais o Espírito é evoluído, mais o seu corpo espiritual (perispírito) também o é. Sendo assim, as vibrações das moléculas quintenssenciadas que o compõem vibram em maior freqüência, trazendo a coloração índigo."

O conceito de aura e suas cores é um conceito espiritualista, que devem ser compreendidos, para eles a aura pode refletir o estado emocional e energético da pessoa, tendo inclusive exercícios e práticas específicas para alterar a cor da aura. A ciência não aceita este sentido espiritualista, devido ao fato de se poder fotografar a "aura" de folhas e pedras, através das fotos Kirlian.

Não há como relacionar uma possível aura colorida com o nível evolutivo do indivíduo, pois se há a possibilidade de se alterar a cor da aura através de exercícios, este fato em nada modificará a posição da pessoa na escala evolutiva.

Muito se fala da nova geração, capítulo da obra A Gênese de Allan Kardec, mas é necessário compreender quem são esta "nova geração". Diz Kardec:

"27. Para que os homens sejam felizes sobre a Terra, é necessário que ela seja povoada apenas por bons espíritos encarnados e desencarnados, que apenas queiram o bem. Tendo chegado tal tempo, uma grande emigração se realiza neste momento entre os que a habitam; aqueles que praticam o mal pelo mal, e que o sentimento do bem não atinge, não sendo mais dignos da terra transformada, dela serão excluídos, porque eles lhe trariam novamente perturbações e confusão, e seriam um obstáculo ao progresso. Iaô expiar seu endurecimento, uns nos mundos inferiores, outros, em raças terrestres atrasadas, que serão o equivalente a mundos inferiores, onde levarão seus conhecimentos adquiridos, e onde irão com a missão de as fazer progredir. Serão substituídos por Espíritos melhores, que farão reinar entre si a justiça, a paz, a fraternidade. No dizer dos Espíritos, a Terra não deve ser transformada por um cataclismo que anulará subitamente uma geração. A geração atual desaparecerá gradualmente, e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que nada seja mudado na ordem natural das coisas.

Portanto, tudo se passará exteriormente como de costume, com esta única diferença, porém diferença capital, que uma parte dos Espíritos que aí se encarnam, não mais se encarnarão. Num menino que venha a nascer, em lugar de um Espírito atrasado e inclinado ao mal, virá um Espírito mais adiantado e inclinado ao bem.

Trata-se pois, muito menos de uma nova geração corporal, que de uma nova geração de Espíritos; é neste sentido, sem dúvida, que o entendia Jesus, quando dizia: "Em verdade vos digo que esta geração não passará sem que estas coisas aconteçam." Assim, aqueles que esperarem ver a transformação por efeitos sobrenaturais e maravilhosos ficarão decepcionados."

Kardec, na questão 184-a do O Livro dos Espíritos, pergunta:

"184-a. Se o Espírito nada pede, o que determina o mundo onde irá reencarnar-se?

- O seu grau de evolução. "

Então um espírito irá encarnar num mundo cuja evolução seja similar. Ninguém vai expulsar ninguém, com a evolução de alguns habitantes daqui, a vibração do mundo começa a se alterar, atraindo outros espíritos também mais evoluídos e aqueles que não evoluem vão se retirando, por não encontrar sintonia, vão encarnando em outros mundos. Ninguém vai mudar nada para nós, somos nós que ao nos modificarmos sutilmente, também vamos auxiliando na mudança do mundo.

Deixo vocês com este longo texto, para refletir e encontrarem uma conclusão satisfatória a cada um. O restante do livro, que não é muito, mas que não traz os conceitos básicos desta crença, eu farei uma analise em um outro texto, posteriormente, para este não ficar mais extenso que o necessário.

Claudia C.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A hora H do Espiritismo

Após um século de propagação difícil em todo o mundo, a partir da França, sob a condenação veemente e simultânea da Ciência, da Filosofia e da Religião, o Espiritismo atinge, em nossos dias, um momento difícil. As mentiras e calúnias lançadas sobre ele criaram uma imagem falsa da Doutrina, que estranhamente predominou nos meios culturais. Até hoje, apesar da gigantesca bibliografia científica espírita existente no mundo, firmada pelos mais altos expoentes da Ciência do século passado e deste século, é comum encontrarmos homens de cultura, e inegável inteligência, que se deixam impressionar pelos seus detratores interesseiros ou ignorantes. Esses homens descem facilmente da sua posição intelectual para se colocarem ao nível das massas de fanáticos que vêem no Espiritismo a obra-prima do Anticristo e de Satanás.

A luta contra o Espiritismo é o campo do vale-tudo. Em matéria de arte, ciência, literatura ou filosofia, as pessoas têm medo de dizer ou escrever tolices, pois isso as diminuiria no conceito público. Mas, quando se trata de Espiritismo, não se pejam de empregar asneiras à vontade. Encontram, por assim dizer, a porta aberta para o desabafo. Sentem-se livres para dizer todas as tolices e asneiras que não poderiam ser ditas ou escritas em outros campos. De nada valem os nomes honrados dos grandes sábios, que são considerados simplesmente como esclerosados ou beócios, facilmente iludidos por trapaceiros vulgares. Como dizia Kardec, os sábios são sábios enquanto não tratam das questões espíritas. Mexendo nessas questões, tornam-se imbecis.

As antigas pesquisas parapsicológicas alemãs, das Ciências Psíquicas anglo-saxônicas, da Psicobiofísica, da Metapsíquica de Richet ou da Parapsicologia atual, são todas levianamente lançadas no rol da ingenuidade dos pesquisadores, ou da patifaria dos médiuns. Até mesmo os físicos e biólogos soviéticos, que tiveram a audácia de provar a existência do corpo espiritual do homem, com a expressiva designação científica de corpo bioplásmico, são reduzidas a puro engano de amadores, desqualificando-se, assim, os atrevidos investigadores. Nesse clima de asfixia da verdade, o Espiritismo devia ter morrido, mas não morreu. Pelo contrário, robusteceu-se vigorosamente pela comprovação dos seus princípios, no próprio campo materialista.

Apesar de tudo isso, e de muito mais que seria longo enumerar, o Espiritismo cresceu de tal maneira que enfrenta, hoje, situações perigosas. Como toda doutrina que se expande, está ameaçado de deturpações, revides arbitrários e desrespeitosos, adulterações, infiltrações de doutrinas estranhas e ultrapassadas. A grande propagação popular criou um campo fértil para exploração dos aventureiros, ansiosos por firmarem a sua reputação de grandes entendidos do assunto, grandes médiuns e oradores de tipo anacrônico.

Formou-se uma falsa elite cultural espírita, que se arroga o direito de reformular conceitos, revisar princípios e, até mesmo, alterar textos clássicos da bibliografia doutrinária. Atrás dos pavoneantes mestres e reformadores, formam-se as filas de candidatos ingênuos ao Reino dos Céus, que tudo aceitam de olhos
fechados e mãos postas. É a hora do perigo, em que as mais elevadas doutrinas podem ser transformadas em mistifórios grosseiros.

O trabalho real, que teria de ser feito, ninguém faz, por falta de capacidade e excesso de preguiça mental. E, quando alguém resolve iniciar alguma coisa, no desenvolvimento consciente, respeitoso, da obra fundamental de Kardec, nas bases da cultura atual, as escolinhas ou igrejinhas dos falsos iluminados se conjugam na repulsa ao trabalho cultural, em defesa da cômoda ignorância em que podem semear as suas tolices e cultivar as suas pretensões vaidosas. Vale mais, para a maioria dos adeptos, a suposta descoberta de novos métodos de passes e curas miraculosas, do que um estudo sério e esclarecedor da própria estrutura da
Doutrina e de sua posição cultural. As pessoas cultas que percebem isso temem a turba dos fanáticos e preferem resguardar o seu prestígio ao invés de lutar contra o aviltamento doutrinário. Daí o silêncio da maioria dos líderes na hora da adulteração, que rompeu a falsa aparência de unidade e coerência do movimento espírita brasileiro.

As obras de assistência social atraem as contribuições generosas, em prejuízo das obras culturais. A ajuda ao próximo só é interpretada em sentido material. A cultura perece e os charlatães se divertem deslumbrando os basbaques. ninguém se lembra de que estamos numa fase de grande desenvolvimento cultural, favorável
ao entrosamento da cultura espírita. A penúria intelectual do movimento espírita contrasta estranhamente com as dimensões conceptuais e as finalidades da Doutrina, a única que oferece a possibilidade de soluções evangélicas para a situação mundial.

Vaidade das vaidades, tudo é vaidade, diz o Eclesiastes. Até mesmo pessoas analfabetas, quando aprendem a lidar grosseiramente com a mediunidade, julgam-se mestres infalíveis. E, criaturas dotadas de diplomas universitários tornam-se seguidores de messias broncos, profetas incultos, que usam sem temor o atrevimento da ignorância para atacar e criticar os que lutam em defesa da Doutrina. Como modificar essa situação desastrosa sem a abnegação de pessoas que, dotadas realmente de formação cultural (e não apenas de diploma), se ponham corajosamente em campo? Esta é a Hora H do Espiritismo. Ou ele se firmará como
um processo cultural legítimo, ou será asfixiado pela avalancha de sandices que sobre ele despejam, sem cessar, os pretensiosos irresponsáveis, missionários por conta própria, elaboradores de doutrinas individuais e ridículas, sugeridas pelas mentes sombrias que desejam ridicularizar a Doutrina.

Os que se omitem por comodismo e interesses subalternos, nesta hora decisiva, cantando louvores a todos os absurdos em nome da tolerância e da fraternidade (como se essas duas palavras significassem conivência), são piores que os semeadores de joio, pois são os que estimulam e sustentam o trabalho de sapa no meio doutrinário. A eles podemos aplicar a advertência do Cristo aos fariseus, pois os ladrões e as meretrizes chegarão, antes deles, ao Reino dos Céus.

O Mistério do Bem e do Mal, J. Herculano Pires

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

FOTOGRAFIA DO PENSAMENTO.

PensamentoO fenômeno da fotografia do pensamento se ligando ao das criações fluídicas, descrito em nosso livro da Gênese, no capítulo dos fluidos, para maior clareza reproduzimos a passagem desse capítulo, onde esse assunto é tratado, e o completamos com novas observações.

Os fluidos espirituais, que constituem, propriamente falando, um dos estados do fluido cósmico, são a atmosfera dos seres espirituais; é o elemento onde eles haurem os materiais sobre os quais operam; é o meio onde se passam os fenômenos especiais perceptíveis à vista e ao ouvido do Espírito, e que escapam aos sentidos carnais impressionados somente pela matéria tangível, onde se forma essa luz particular ao mundo espiritual, diferente da luz comum por sua causa e seus efeitos; é, enfim, o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som.

Os Espíritos agindo sobre os fluidos espirituais, não os manipulam como os homens manipulam os gases, mas com a ajuda do pensamento e da vontade, O pensamento e a vontade são para os Espíritos o que a mão é para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem a esses fluidos tal ou tal direção; aglomeram-nos, combinam-nos ou os dispersam; com eles formam conjuntos tendo uma aparência, uma forma, uma cor determinada; mudando-lhes as propriedades, como um químico muda a dos gases ou outros corpos, os combinam segundo certas leis; é a grande oficina ou o laboratório da vida espiritual.

Algumas vezes, essas transformações são o resultado de uma intenção; freqüentemente, são o produto de um pensamento inconsciente; basta ao Espírito pensar numa coisa para que essa coisa se produza, como basta modular uma ária para que essa ária repercuta na atmosfera.

É assim, por exemplo, que um Espírito se apresenta à vista de um encarnado dotado da visão psíquica, sob as aparências que tinha quando vivo, na época em que foi conhecido, tivesse tido várias encarnações depois. Ele se apresenta com a roupa, os sinais exteriores, -enfermidades, cicatrizes, membros amputados, etc., que tinha então; um decapitado se apresentará com a cabeça a menos. Não é dizer que ele conserva essas aparências; não, certamente; porque como Espírito ele não é nem coxo, nem maneta, nem caolho, nem decapitado, mas seu pensamentos e reportando à época em que era assim, seu perispírito lhe toma instantaneamente as aparências, que deixa do mesmo modo instantaneamente, desde que seu pensamento deixa de agir. Se, pois, foi uma vez negro, outra vez branco, ele se apresentará como negro ou como branco, segundo a dessas duas encarnações sob a qual for evocado, e onde se reportar o seu pensamento.

Por um efeito análogo, o pensamento do Espírito cria fluidicamente os objetos dos quais tinha o hábito de se servir: um avaro manejará o ouro; um militar terá as suas armas e o seu uniforme; um fumante, o seu cachimbo; um lavrador, a sua charrua e seus bois; uma velha, a sua roca para afiar. Esses objetos fluídicos são tão reais para o Espírito que é, ele mesmo, fluídico, quanto eram no estado material para o homem vivo; mas, pela mesma razão que são criados pelo pensamento, a sua existência é tão fugidia quanto o pensamento.

Sendo os fluidos o veículo do pensamento, eles nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som. Pode-se, pois, dizer, em verdade, que há, nesses fluidos, ondas e raios de pensamentos, que se cruzam sem se confundirem, como há no ar ondas e raios sonoros.

Como se vê, é uma ordem de fatos toda nova que se passam fora do mundo tangível, e constituem, podendo-se assim dizer, a física e a química especiais do mundo invisível. Mas como, durante a encarnação, o princípio espiritual está unido ao princípio material, disto resulta que certos fenômenos do mundo espiritual se produzem conjuntamente com os do mundo material, e são inexplicáveis para quem não lhes conhece as leis. O conhecimento dessas leis é, pois, tão útil aos encarnados quanto aos desencarnados, uma vez que só elas podem explicar certos fatos da vida material.

O pensamento, criando imagens fluídicas, se reflete no envoltório espiritual como numa vidraça, ou ainda como essas imagens de objetos terrestres que se refletem nos vapores de ar; ela ali toma um corpo e se fotografa de alguma sorte. Que um homemtenha, por exemplo, a idéia de matar um outro, por impassível que seja seu corpo material, seu corpo fluídico é posto em ação pelo pensamento do qual reproduz todas as nuanças; ele executa fluidicamente o gesto, o ato que tem o desejo de realizar; seu pensamento cria a imagem da vítima, e a cena inteira se pinta, como num quadro, tal qual ela está em seu espírito.

É assim que os movimentos mais secretos da alma repercutem no envoltório fluídico; que uma alma, encarnada ou desencarnada, pode ler numa outra como num livro, e ver o que não é perceptível pelos olhos do corpo. Os olhos do corpo vêem as impressões interiores que se refletem sobre os indícios do rosto: a cólera, a alegria, a tristeza; mas a alma vê sobre os indícios da alma os pensamentos que não se traduzem ao redor.

No entanto, segundo a intenção, o vidente pode bem pressentir o cumprimento do ato que lhe será a conseqüência, mas não pode determinar o momento em que se cumprirá, nem lhe precisar os detalhes, nem mesmo afirmar que ocorrerá, porque circunstâncias ulteriores poderão modificar os planos decididos e mudar as disposições. Ele não pode ver o que não está ainda no pensamento; o que vê é a preocupação do momento, ou habitual, do indivíduo, seus desejos, seus projetos, suas intenções boas ou más; daí os erros nas previsões de certos videntes, quando um acontecimento está subordinado ao livre-arbítrio do homem; não podem senão pressentir-Ihe a probabilidade segundo o pensamento que vêem, mas não afirmar que ocorrerá de tal maneira e em tal momento. A maior ou a menor exatidão nas previsões, depende, além disso, do alcance e da clareza da visão psíquica; em certos indivíduos, Espíritos ou encarnados, ela é difusa ou limitada a um ponto, ao passo que, em outros, ela é limpa, e abarca o conjunto dos pensamentos e da vontade, devendo concorrer para a realização de um fato; mas, acima de tudo, há sempre a vontade superior que pode, em sua sabedoria, permitir uma revelação ou impedi-la; neste caso, um véu impenetrável é lançado sobre a visão psíquica mais perspicaz. (Ver na Gênese, o cap. da Presciência.)

A teoria das criações fluídicas e, conseqüentemente, da fotografia do pensamento, é uma conquistado Espiritismo moderno, e pode ser, doravante, considerada como adquirida em princípio, salvo as aplicações de detalhes que são o resultado da observação. Esse fenômeno é, incontestavelmente. A fonte das visões fantásticas, e deve desempenhar um grande papel em certos sonhos.

Pensamos que nele se pode encontrar a explicação da mediunidade do copo com água. (Ver o art. precedente.) Desde que o objeto que se vê não está no copo, a água deve fazer o trabalho de uma vidraça que reflete a imagem criada pelo pensamento do Espírito. Esta imagem pode ser a reprodução de uma coisa real, como pode ser a de uma criação de fantasia. O copo com água não é, em todos os casos, senão um meio de
reproduzi-la, mas não é o único, assim como o prova a diversidade de procedimentos empregados por alguns videntes; este, talvez, convenha melhor para certas organizações.

Revista Espírita, junho de 1868 , Allan Kardec

domingo, 8 de fevereiro de 2009

ESTUDOS E PESQUISAS

Os espíritas em geral consideram que o caminho de continuidade do Espiritismo e dos próprios centros está nas atividades de estudos e pesquisas. Apesar disso elas ainda buscam seu lugar ao sol, pois faltam medidas objetivas. Neste capítulo estudo essas atividades e suas perspectivas.

A BASE DO CENTRO

Os estudos e as pesquisas são o sustentáculo do centro cujo modelo propus no capítulo 1. As diversas atividades
do centro são embasadas e orientadas por eles. As pessoas tomam contato com o Espiritismo, criam, desenvolvem e substituem atividades baseadas neles. No entanto, isso não tem sido verdade na grande maioria dos nossos centros reais, por razões culturais diversas.

Embora reconhecida como fundamental por dirigentes e freqüentadores de todas as casas, poucas vezes se encontra um centro espírita em que as atividades de estudos e pesquisas sejam colocadas como as mais importantes. Muitas vezes a necessidade salvadora de “praticar a caridade” (dar roupas e alimentos, dar passes, atender pessoas e espíritos) substitui o peso do conhecimento espírita, que daria certamente uma grande contribuição para libertar as pessoas de seus maiores problemas existenciais.

Allan KARDEC chegou a propor uma estrutura para as reuniões, baseado na experiência da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Nota-se a preocupação básica com estudos e pesquisas:

"Os trabalhos de cada sessão podem regular-se conforme se segue:

1a Leitura das comunicações espíritas recebidas na sessão anterior, depois de passadas a limpo.

2a Relatórios diversos. - Correspondência. - Leitura das comunicações obtidas fora das sessões. - Narrativa de fatos que interessem ao Espiritismo.

3a Matéria de estudo. - Ditados espontâneos. - Questões diversas e problemas morais propostos aos Espíritos. - Evocações.

4a Conferência.-Exame crítico e analítico das diversas comunicações. - Discussão sobre diferentes pontos da ciência espírita."(84)

A proposta de KARDEC sugere que:

(1) estudos e pesquisas são as atividades básicas da sociedade,

(2) o nosso principal objeto de estudo é a mediunidade,

(3) podemos utilizar as próprias comunicações obtidas na casa como instrumentos de aprendizado e pesquisa.

Para os grupos que não possuíssem médiuns, KARDEC propôs também que realizassem estudos diversos.(85)

Em relação à pesquisa, em particular, é necessário, antes de tudo uma desmistificação da palavra. Denomino pesquisa a todas as atividades do centro que envolvam um trabalho de elaboração humano.86 Assim sendo, a mais simples reunião mediúnica pode realizar pesquisa, bastando para isso que adote uma metodologia de trabalho e um conjunto de técnicas para aplicá-la, sempre na busca de conhecer algo mais.

O maior exemplo que tivemos neste sentido veio do próprio KARDEC. As diversas obras da codificação apresentam exemplos da postura de KARDEC em relação à pesquisa mediúnica. Para ele era muito clara a diferença entre o seu papel e dos espíritos: ele era o pesquisador, enquanto os espíritos, médiuns e fenômenos eram objetos de pesquisa.Cabia a ele planejar, conduzir e avaliar continuamente os resultados da pesquisa (este era o trabalho de elaboração humano, necessário em qualquer pesquisa).

A título de ilustração, escolho um caso relatado em O livro dos médiuns, que ilustram com muita clareza a sua
forma de trabalhar: numa pesquisa sobre o laboratório do mundo invisível, em que entrevista o espírito São Luís, KARDEC conduz passo a passo a discussão e não se submete com facilidade às explicações dadas pelo espírito para a aparição de objetos. KARDEC considerava, antes da argüição, que essas aparições se explicavam pela existência de um duplo etéreo no mundo invisível, da mesma forma que os homens são nele representados pelos espíritos. Quando São Luís dá uma explicação diferente, dizendo que os próprios
espíritos podem concentrar elementos da atmosfera e dar-lhes uma aparência, KARDEC ainda volta à questão, para obter uma confirmação de São Luís. Este chega a responder de forma lacônica: “Parece-me que a minha resposta precedente resolve a questão”, mas não há cons-trangimentos: tanto um quanto outro conhecia o seu próprio papel no jogo da busca de conhecimento.(87)

Este simples exemplo mostra que pesquisar depende mais de uma postura de observação e crítica do que de
títulos acadêmicos: na maioria dos grupos espíritas modernos uma manifestação de São Luís (ou de um espírito elevado qualquer) causaria tanta admiração que suas palavras seriam absorvidas sem qualquer análise ou questionamento.Por causa dessa postura não se evocam os espíritos, não se fazem perguntas objetivas sobre assuntos de interesse da ciência, não se registram, avaliam e divulgam os resultados.

Uma estrutura baseada em estudos e pesquisas traz problemas a serem enfrentados. O primeiro se refere à
necessidade de restrições à freqüência e à integração de novos participantes.88 São atividades que exigem intensa participação das pessoas, assiduidade e amadurecimento dos grupos de trabalho. Se pessoas novas e inexperientes entram e saem de um grupo continuamente, é muito difícil fazê-lo progredir e dar uma contribuição real. O processo de integração de novas pessoas necessita de critérios claros que envolvem seu conhecimento prévio de Espiritismo, seus vínculos com o centro e com o grupo de estudo, sua idade, seus interesses etc. O estabelecimento desses critérios só trarão realmente algum problema se forem mantidas as velhas idéias de grandeza do centro e da necessidade de conquistar freqüentadores a qualquer custo.

Os novos participantes se integram aos poucos e recebem recursos para se aperfeiçoarem e se prepararem para atividades mais elaboradas, através de cursos, palestras e seminários. Só não podemos cair na armadilha do catecismo, que estabelece passos rígidos e predeterminados para se atingir algum estágio. O centro espírita possui uma estrutura aberta ao crescimento e à participação. Há pessoas que com pouco tempo mostram-se preparadas para novos desafios: já leram vários livros, compreenderam os pontos fundamentais da doutrina e têm interesse pelo trabalho. Elas não podem ficar enterradas em cursos infindáveis antes de começar a contribuir.

Outro problema se refere à integração de crianças e jovens nas atividades, que numa estrutura moderna, deve ser a maior possível. As crianças e, em menor escala, os jovens, compartilham o mundo com uma visão diferenciada. São preocupações, interesses, formas de abordagem diferentes e que podem receber, por parte do centro espírita, espaço próprio para sua expansão. Qualquer que seja o campo de visão a contribuição do Espiritismo é muito grande, porque toca no que todos temos de mais profundo: nossa capacidade de ser, existir e crescer. É fundamental, no entanto, identificar os pontos comuns e as oportunidades de convivência para aprendizado conjunto. Através de sua participação em atividades integradas os jovens têm contribuído para que os estudos ganhem espaço nos centros. (89)

84 —. Das reuniões e das sociedades espíritas - Das sociedades propriamente ditas. Em: —. O livro dos médiuns. parte 2, cap. XXIX, item 346, p. 430-431.

85 Ibid., item 347, p. 431-432.

86 Allan KARDEC. Caracteres da revelação espírita. Em: Allan KARDEC. A gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo, cap. I, itens 13-15, p. 15-16.

87 —. Do laboratório do mundo invisível. Em: —. O livro dos médiuns. cap. VIII. p. 156-165.

88 Jaci RÉGIS. O centro espírita no século XX. Em: CONGRESSO ESPÍRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 10.

89 Ibid., p. 11.

Centro Espírita: Uma revisão estrutural, Mauro de Mesquita Spinola

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

EVENTOS DE RENOVAÇÃO



Temos hoje uma diversidade de tendências. Alguns grupos firmam-se no religiosismo, no mediunismo, no assistencialismo e na ignorância. Outros buscam caminhos de renovação. Mas não se pode dizer que esse movimento é novo.

Em vários momentos da história do movimento espírita brasileiro puderam ser identificadas ações renovadoras, voltadas para uma identificação maior dos grupos com o Espiritismo, conceitual e metodologicamente. Isoladas, essas ações não chegaram, na maioria das vezes, a deixar a sua marca, o que não significa que não cumpriram seu papel. Muitas vezes acabam contribuindo para a criação de focos de reconstrução e renovação que nascem à margem
da inércia geral. Uma avaliação fria conclui, no entanto, que poucas pessoas foram atingidas.

Entre as ações renovadoras cujo efeito atingiu ou tem atingido um número significativo de centros está a criação das editoras espíritas, como a da FEB, no Rio de Janeiro- RJ, e O Clarim, em Matão-SP. Considero que este foi o mais significativo conjunto de eventos para superação de nossas limitações doutrinárias.(42) As editoras espíritas se proliferaram e são hoje uma realidade. Servem, em geral, à divulgação da ideologia reinante, mas isso é apenas uma
conseqüência de sua forte ligação com o movimento. Com os livros, revistas e jornais existe um meio de transmissão, progresso.

Houve processos de renovação levados pelo movimento de unificação entre centros,(43) entre eles:
a) a divulgação das “Deliberações do Simpósio Centro- Sulino”, realizado em 1962, com uma abrangente caracterização funcional dos centros espíritas,

b) a proliferação do “COEM - Centro de Orientação e Educação Mediúnica”, um programa de estudo e sistematização da prática mediúnica elaborado pelo
Centro Espírita Luz Eterna, de Curitiba, PR, a partir de 1970,

c) a criação do “Estudo Sistematizado de Doutrina Espírita” pela Federação Espírita do Rio Grande do Sul e sua posterior divulgação nacional pela FEB,

d) a divulgação de documentos de orientação aos centros espíritas, pela USE - União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, como a “Carta aos
Centros Espíritas”, a partir de 1975, e o “Esquema de Atividades Doutrinárias de um Centro Espírita”, desde 1978,

e) a divulgação, pela FEB, dos documentos “A adequação do Centro Espírita para o melhor atendimento de suas finalidades”, a partir de 1977, e “Orientação ao Centro Espírita”,(44) desde 1980,
f) a campanha “Comece pelo Começo”, realizada pela USE a partir de 1975, para divulgação das obras de Allan KARDEC, e estendida depois, para todo o país.

A listagem desses eventos pode dar a impressão de que coube em todos esses momentos ao movimento de unificação e à sua direção a vanguarda da renovação. A verdade é que essas conquistas aparecem muitas vezes como concessões a propostas formuladas e defendidas à revelia dos dirigentes.

Diversos desses documentos, programas de cursos, cartas e orientações citados seriam hoje passíveis de revisão, mas representaram avanços na reaproximação dos grupos com o Espiritismo, mais marcantes até que alguns excelentes livros, artigos de jornais e revistas publicados que não tiveram espaço para divulgação.

A criação de grupos de pesquisas, vinculados ou não a centros espíritas, mostra que o movimento ainda busca novos caminhos.

42 Antonio Cesar Perri de CARVALHO. Mudanças estruturais dos centros e grupos
espíritas de Kardec aos nossos dias. Em: CONGRESSO ESPÍRITA ESTADUAL
DA USE, 7. Anais. p. 5.
43 Antonio Cesar Perri de CARVALHO. Mudanças estruturais dos centros e grupos espíritas de Kardec aos nossos dias. Em: CONGRESSO ESPÍRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 6. Éder FÁVARO e outros. A estrutura dos centros espíritas de Kardec aos nossos dias. Em: CONGRESSO ESPÍRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 11-14.

44 FEDERAÇÃO Espírita Brasileira. .
Orientação ao centro espírita, Mauro de Mesquita Spinola

Seminário sobre "Mediunidade"

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Marcha gradual do Espiritismo. Dissidências e entraves

 
27 DE ABRIL DE 1866
 
(Paris, em casa do sr. Leymarie, méd. sr. L...)
 
Caros condiscípulos, o que é verdadeiro deve ser; nada pode se opor à irradiação de uma verdade; às vezes, pode-se velá-la, torturá-la, fazer nela o que fazem os teredos nos diques holandeses; mas uma verdade não é edificada sobre estaca: ela corta o espaço; está no ar ambiente, e se pôde deslumbrar uma geração, há sempre encarnações novas, de recrutamentos da erraticidade que vêm trazer germes
fecundos, outros elementos, e que sabem atrair para eles todas as grandes coisas desconhecidas.
 
Não vos apresseis muito, amigos; muitos dentre vós gostariam de ir a vapor, e nesse tempo de eletricidade, correr como ela. Esqueceis as leis da Natureza, gostaríeis de ir mais depressa do que o tempo. Refleti, no entanto, o quanto Deus é sábio em tudo. Os elementos que constituem o vosso planeta sofreram uma longa e laboriosa criação; antes que pudésseis existir, foi necessário que tudo se constituísse segundo a aptidão de vossos órgãos. A matéria, os minerais, fundidos e refundidos, os gases, os vegetais, pouco a pouco
harmonizados e condensados, a fim de permitir a vossa eclosão sobre a Terra. É a eterna lei do trabalho que não cessou de reger os seres inorgânicos, como os seres inteligentes.
 
O Espiritismo não pode escapar a essa lei, à lei da criação.
 
Implantado sobre um solo ingrato, é preciso que haja suas más ervas, seus maus frutos. Mas também, cada dia se roçam, se arrancam, se cortam os maus ramos; o terreno se surriba insensivelmente, e quando o viajor, fatigado das lutas da vida, encontrar a abundância e a paz à sombra de um fresco oásis, virá estancar a sua sede, enxugar seus suores, nesse reino lenta e sabiamente preparado; ali o rei é Deus, esse dispensador generoso, esse igualitário judicioso, que sabe bem que o trajeto a seguir é doloroso, mas fecundo; penoso, mas necessário; o Espírito formado na escola do trabalho, dela sai mais forte e mais apto para as grandes coisas. Aos desfalecidos ele diz: coragem; e como esperança suprema, deixa entrever, mesmo aos mais ingratos, um ponto de atraso, ponto salutar, caminho demarcado pelas reencarnações.
 
Ride das vãs declamações: deixai falar os dissidentes, berrar aqueles que não podem se consolar por não serem os primeiros; todo esse pequeno ruído não impedirá o Espiritismo de fazer invariavelmente o seu caminho; é uma verdade, e, como um rio, toda verdade deve seguir o seu curso.
 
Obras Póstumas, Allan Kardec

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