segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Meu Olhar sobre o Tom Azul

Todas as vezes que refletia sobre o tema das crianças índigo, eu ouvia: -"mas Divaldo falou isso, mas Divaldo falou aquilo", como se pelo fato do Divaldo ter falado, o assunto deveria ser aceito e encerrado.

Venho através deste texto, fazer uma reflexão crítica do livro A Nova Geração: A Visão Espírita sobre Crianças Índigo e Cristal, de autoria de Divaldo Pereira Franco com Vanessa Anseloni.

A primeira vez que ousei pensar em voz alta sobre o assunto, escutei a voz firme e agressiva de um amigo inquirindo-me: -"Quem você pensa que é para criticar Divaldo?" Isto me tocou a alma, principalmente por aqueles que ainda não compreendem o espiritismo.

Reproduzo o conselho de São Luís que está no O Evangelho segundo o Espiritismo:

"Por mais legítima confiança que vos inspirem os Espíritos dirigentes de vossos trabalhos, há uma recomendação que nunca seria demais repetir e que deveis ter sempre em mente ao vos entregardes aos estudos: a de pesar e analisar, submetendo ao mais rigoroso controle da razão todas as comunicações que receberdes; a de não negligenciar, desde que algo vos pareça suspeito, duvidoso ou obscuro, de pedir as explicações necessárias para formar a vossa opinião".

Em primeiro lugar deve-se perceber o objetivo do livro, ilustrado pelo título, que é analisar os conceitos de crianças índigo e cristal sob a ótica espírita, pois estes não são conceitos espíritas e sim espiritualistas.

No capítulo 2, Divaldo propõe uma análise sobre a cooperação interplanetária e evolução humana. Neste, ele afirma:

"Aquele planeta da Constelação do Cocheiro havia, portanto, atingido um nível de grande elevação intelecto-moral, mas ainda permaneciam Espíritos belicosos, perversos, que se negavam à obediência e ao amor, comprazendo-se na prática do mal.

Para que não prejudicassem o programa de evolução geral, foram expulsos para um outro planeta, onde tivessem ocasião de aplicar os conhecimentos e sofrer as conseqüências da sua rebeldia – um verdadeiro inferno - reencarnando-se na Terra, exatamente quando os terrícolas se encontravam na fase antropóide.

É curioso notar que os descendentes físicos desses antropóides irão ser animados por Espíritos intelectualizados, que desenvolverão equipamentos orgânicos próprios capazes de expressar com clareza os conhecimentos de que são portadores.

Surgem, então, os descendentes dos primatas, permanecendo, concomitantemente, os antropóides, nos quais continuarão reencarnando-se, nessa organização em desenvolvimento, aqueles Espíritos ainda primários, em face da sua evolução terrícola."

Eu li e reli várias vezes este trecho, tentando compreender melhor. Divaldo afirma que os primeiros espíritos que reencarnaram na Terra vieram todos de Capela. Baseado em que, se faz tal afirmação? Eu particularmente não compreendo este tipo de informação, pois os espíritos que encarnam, ou encarnaram, ou que irão encarnar na Terra vem do mundo espiritual e não de um planeta. Não existe espírito terráqueo, capelino ou marciano, existem apenas espíritos passando por provas na Terra, em Capela ou em Marte. Assim, todos os espíritos que encarnaram até este instante, na Terra, vieram de um único lugar, do mundo espiritual.

Mas há neste trecho, citado anteriormente, outra informação que espero ter sido oriunda da minha má compreensão do texto. Porque este trecho nos diz que estes espíritos encarnaram em macacos e a partir daí desenvolveram os corpos humanos. Para tirar possíveis dúvidas, fui buscar no dicionário o significado da palavra antropóide:

"1. Semelhante ao homem. 2. Pertencente ou relativo aos antropóides. 3. Espécie dos antropóides, grupo de símios catarríneos que compreende os chipanzés, os gorilas e os orangotangos, bem como algumas espécies fósseis. São desprovidos de cauda e ocasionalmente bípedes."

Idéia, equivocadamente, reforçada por Vanessa Anseloni no trecho seguinte:

"A cada reencarnação, o ser espiritual conectado ao seu corpo espiritual (o perispírito) vai se ligando, molécula a molécula, ao novo organismo físico desde a sua primeira célula, a célula ovo, ou zigoto, na concepção. Deste modo, a mente do Espírito a formação do novo corpo via o seu molde fundamental, o perispírito.

A reencarnação tem por finalidade o melhoramento progressivo da humanidade. (Questão 167 de O Livro dos Espíritos, por Allan Kardec). O ser espiritual vai progredindo a cada reencarnação, jamais, regredindo. Por conseqüência, o conceito de metempsicose (reencarnação em corpos de animais) não se sustenta em bases lógicas uma vez que o ser espiritual, em alcançando o patamar do reino hominal, não poderá retrogradar em uma estrutura incompatível com o amadurecimento espiritual-perispiritual do espírito."

Neste trecho Vanessa contradiz o que Divaldo disse, pois se os espíritos já eram evoluídos eles não iriam retrogradar e reencarnar em corpos de animais, seria ir contra a Lei Natural.

No capítulo XI, item 20 da A Gênese, Allan Kardec afirma:

"20. Um fenômeno particular, igualmente assinalado pela observação, acompanha sempre a encarnação do espírito. Desde que este é apanhado pelo laço fluídico que o liga ao germe entra em estado de perturbação; essa perturbação cresce, à medida que o laço se firma e, nos últimos momentos, o Espírito perde toda a consciência de si mesmo de modo que ele nunca é testemunha consciente de seu nascimento. No momento que a criança respira, o Espírito começa a recuperar suas faculdades, as quais se desenvolvem à medida que se formam e consolidam os órgãos que devem servir para sua manifestação."

Como é possível a mente de um espírito em perturbação comandar a formação de um novo corpo?

A questão 167, citada no texto, é a seguinte:

"167. Qual é a finalidade da reencarnação?

- Expiação, melhoramento progressivo da humanidade. Sem isto, onde estaria a justiça?"

Deve-se compreender que o melhoramento progressivo ao qual os espíritos se referem é o progresso intelectual e moral, e não orgânico, e a humanidade não é restrita aos homens encarnados no planeta Terra.

Mais adiante, quase ao final do capítulo Divaldo afirma:

"Por volta de 1972, e mais particularmente por ocasião de 1987, repetimos, o sistema solar está penetrando no cinturão de fótons de Alcione, e uma nova revolução vem-se operando na estrutura psíquica da Terra, quando uma onda de Espíritos dessa dimensão vem promover mudanças sutis na forma orgânica, facilitando o processo de evolução intelecto-moral para que alcance níveis muito mais elevados.

Da vez anterior, a que nos referimos, os exilados em nosso planeta ofereceram ao nosso corpo os equipamentos para a manifestação da inteligência, do raciocínio, da consciência, mantendo, no entanto, os nossos instintos ancestrais. Agora, quando ainda somos instintos, sensações, emoções, desenvolvendo a razão, novos visitantes espirituais, transitoriamente entre nós, para também evoluir, vêm criar uma nova sociedade, porém assinalada pelas conquistas da intuição, da percepção paranormal, dos sentimentos elevados. Eles vêm mudar a estrutura do nosso organismo, facultando-nos instrumentos que nos façam mais perfeitos, mais sábios, menos guerreiros, menos perversos..."

Eu me questiono como o nosso corpo pode nos fazer mais perfeitos, mais sábios, menos guerreiros ou menos perversos?

Na questão 368 e 370, do O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta:

"368. As faculdades dos Espíritos se exercem com toda a liberdade, após a sua união com o corpo?

- O exercício das faculdades depende dos órgãos que lhes servem de instrumentos; elas são enfraquecidas pela grosseria da matéria."

"370. Pode-se induzir da influência dos órgãos uma relação entre o desenvolvimento dos órgãos uma relação entre o desenvolvimento dos órgãos cerebrais e o das faculdades morais e intelectuais?

- Não confundais o efeito com a causa. O Espírito tem sempre as faculdades que lhe são próprias. Assim, não são os órgãos que lhe dão as faculdades, mas as faculdades que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos. "

Kardec afirma ainda na nota a seguir:

"O Espírito, ao encarnar-se, traz certas predisposições, e se admitirmos, para cada uma delas, um órgão correspondente no cérebro, o desenvolvimento desses órgãos será um efeito e não uma causa. Se as faculdades tivessem os seus princípios nos órgãos, o homem seria uma máquina, sem livre arbítrio e sem a responsabilidade dos seus atos. Teríamos de admitir que os maiores gênios, sábios, poetas, artistas, não são gênios senão porque o acaso lhes deu órgãos especiais. De onde se segue que, sem esses órgãos, eles não seriam gênios, e que o último dos imbecis poderia ter sido um Newton, um Virgílio ou um Rafael, se houvesse sido provido de certos órgãos. Suposição que se torna ainda mais absurda quando aplicada às qualidades morais. Assim, segundo esse sistema, São Vicente de Paulo, dotado pela natureza de tal ou tal órgão, poderia ter sido um celerado, e não faltaria ao maior celerado mais do que um órgão para ser um São Vicente de Paulo. Admiti, ao contrário, que os órgãos especiais, se é que existem, são conseqüentes e se desenvolvem pelo exercício das faculdades, como os músculos pelo movimento e nada tereis de irracional. Tomemos uma comparação trivial, por bem se aplicar ao caso. Por certos sinais fisionômicos reconhecereis o homem dado à bebida; são esses sinais que o fazer bêbado, ou é o vício da embriaguez que produz os sinais? Pode-se dizer que os órgãos recebem a marca das faculdades."

Assim, a doutrina espírita nos mostra que ao modificar-se o organismo pode-se até facilitar a manifestação de uma faculdade já existente, mas jamais irá promover qualquer transformação no espírito, principalmente quanto ao aspecto moral. Nada nem ninguém pode melhorar um espírito a não ser ele mesmo.

No capítulo 3, Divaldo fala a respeito das crianças índigo. Diz ele:

"Portanto, asseveram os Espíritos nobres que a nova geração é que vai desenvolver o lado direito do nosso cérebro, o lado intuitivo, mediúnico, a área das percepções psíquicas. Essa geração que se está formando vem sendo chamada de geração de crianças índigo, em razão de serem seres especiais que emitem, em suas auras, uma irradiação com uma tonalidade azul-violeta específica, igual à índigo, que é encontrada em uma planta na Índia."

Vanessa ainda complementa a idéia com o trecho seguinte:

"A aura das crianças índigo projeta tonalidade azul-violácea, o que denota o nível de sua evolução. Quanto mais o Espírito é evoluído, mais o seu corpo espiritual (perispírito) também o é. Sendo assim, as vibrações das moléculas quintenssenciadas que o compõem vibram em maior freqüência, trazendo a coloração índigo."

O conceito de aura e suas cores é um conceito espiritualista, que devem ser compreendidos, para eles a aura pode refletir o estado emocional e energético da pessoa, tendo inclusive exercícios e práticas específicas para alterar a cor da aura. A ciência não aceita este sentido espiritualista, devido ao fato de se poder fotografar a "aura" de folhas e pedras, através das fotos Kirlian.

Não há como relacionar uma possível aura colorida com o nível evolutivo do indivíduo, pois se há a possibilidade de se alterar a cor da aura através de exercícios, este fato em nada modificará a posição da pessoa na escala evolutiva.

Muito se fala da nova geração, capítulo da obra A Gênese de Allan Kardec, mas é necessário compreender quem são esta "nova geração". Diz Kardec:

"27. Para que os homens sejam felizes sobre a Terra, é necessário que ela seja povoada apenas por bons espíritos encarnados e desencarnados, que apenas queiram o bem. Tendo chegado tal tempo, uma grande emigração se realiza neste momento entre os que a habitam; aqueles que praticam o mal pelo mal, e que o sentimento do bem não atinge, não sendo mais dignos da terra transformada, dela serão excluídos, porque eles lhe trariam novamente perturbações e confusão, e seriam um obstáculo ao progresso. Iaô expiar seu endurecimento, uns nos mundos inferiores, outros, em raças terrestres atrasadas, que serão o equivalente a mundos inferiores, onde levarão seus conhecimentos adquiridos, e onde irão com a missão de as fazer progredir. Serão substituídos por Espíritos melhores, que farão reinar entre si a justiça, a paz, a fraternidade. No dizer dos Espíritos, a Terra não deve ser transformada por um cataclismo que anulará subitamente uma geração. A geração atual desaparecerá gradualmente, e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que nada seja mudado na ordem natural das coisas.

Portanto, tudo se passará exteriormente como de costume, com esta única diferença, porém diferença capital, que uma parte dos Espíritos que aí se encarnam, não mais se encarnarão. Num menino que venha a nascer, em lugar de um Espírito atrasado e inclinado ao mal, virá um Espírito mais adiantado e inclinado ao bem.

Trata-se pois, muito menos de uma nova geração corporal, que de uma nova geração de Espíritos; é neste sentido, sem dúvida, que o entendia Jesus, quando dizia: "Em verdade vos digo que esta geração não passará sem que estas coisas aconteçam." Assim, aqueles que esperarem ver a transformação por efeitos sobrenaturais e maravilhosos ficarão decepcionados."

Kardec, na questão 184-a do O Livro dos Espíritos, pergunta:

"184-a. Se o Espírito nada pede, o que determina o mundo onde irá reencarnar-se?

- O seu grau de evolução. "

Então um espírito irá encarnar num mundo cuja evolução seja similar. Ninguém vai expulsar ninguém, com a evolução de alguns habitantes daqui, a vibração do mundo começa a se alterar, atraindo outros espíritos também mais evoluídos e aqueles que não evoluem vão se retirando, por não encontrar sintonia, vão encarnando em outros mundos. Ninguém vai mudar nada para nós, somos nós que ao nos modificarmos sutilmente, também vamos auxiliando na mudança do mundo.

Deixo vocês com este longo texto, para refletir e encontrarem uma conclusão satisfatória a cada um. O restante do livro, que não é muito, mas que não traz os conceitos básicos desta crença, eu farei uma analise em um outro texto, posteriormente, para este não ficar mais extenso que o necessário.

Claudia C.

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