domingo, 25 de janeiro de 2009

Apometria não é espiritismo.

" O médico carioca residente em Porto Alegre Dr. José Lacerda desde os anos 50, espírita que era então, começou a realizar numa pequena sala do Hospital Espírita de Porto Alegre chamada A Casa do Jardim, atividades mediúnicas normais. Com o tempo ele recebeu instruções dos espíritos e realizou investigações pessoais que desaguaram em um movimento ao qual ele deu o nome de Apometria. Não irei entrar no mérito nem no estudo da apometria porque eu não sou apometra, eu sou espírita o que posso dizer é que a apometria, segundo os apometras, não é espiritismo. Porquanto as suas práticas estão em total desacordo com as recomendações de O Livro dos Médiuns. Não examinaremos aqui o mérito ou demérito porque eu não pratico a apometria, mas segundo os livros que tem sido publicados, a apometria, segundo a presunção de alguns, é um passo avançado do movimento Espírita no qual Allan Kardec estaria ultrapassado. Allan Kardec foi a proposta para o século XIX e para parte do século XX e a apometria é o degrau mais evoluído no qual Allan Kardec encontra-se totalmente ultrapassado. Tese com a qual, na condição de espírita, eu não concordo em absoluto. Na prática e nos métodos de libertação dos obsessores a violência que ditos métodos apresenta, a mim, a mim pessoalmente me parecem tão chocantes que fazem recordar-me da lei de Talião que Moises suavizou com o código legal e que Jesus sublimou através do amor. Quando as entidades são rebeldes os doutrinadores depois de realizarem uma contagem cabalística ou de terem o gestual muito específico expulsam pela violência esse espírito para o magma da Terra, a substância ainda em ebulição do nosso planeta.
O colocam em cápsulas espaciais e disparam para o mundo da erraticidade. Não iremos examinar a questão esdrúxula desse comportamento, mas se eu, na condição de espírito imperfeito que sou, chegasse desesperado num lugar pedindo misericórdia e apoio na minha loucura, e outrem, o meu próximo, me exilasse para o magma da Terra, para eu experimentar a dureza de um inferno mitológico ou ser desintegrado, eu renegaria àquele Deus que inspirou esse adversário da compaixão. Ou se me mandasse numa cápsula espacial para que fosse expulso da Terra. Com qual autoridade? Quando Jesus disse que o seu reino é dos miseráveis. Na parábola do Festim de Bodas, ele manda buscar os mendigos, aqueles que estão nos lugares escabrosos já que os eleitos recusaram e mataram os seus embaixadores. A Doutrina Espírita centraliza-se no amor e todas essas práticas novas, das mentalizações, das correntes mento-magnéticas, psico-telérgicas para nós espíritas merecem todo respeito, mas não tem nada a ver com espiritismo. Seria o mesmo que as práticas da Terapia de Existências Passadas nós realizarmos dentro da casa espírita ou da cromoterapia ou da cristalterapia, fugindo totalmente da nossa finalidade. A Casa Espírita não é uma clínica alternativa, não é lugar onde toda experiência nova vai colocada em execução.
Tenho certeza de que aqueles que adotam esses métodos novos, primeiro, não conhecem as bases Kardequianas e ao conhecerem-nas nunca vivenciaram para terem certeza, seria desmentir todo material revelado pelo mundo espiritual nestes 144 anos de codificação, no Brasil e no mundo, pela mediunidade incomparável de Chico Xavier, as informações que vieram por esse médium impar, pela notável Yvone do Amaral Pereira, por Zilda Gama, por tantos médiuns nobres conhecidos e nobres desconhecidos no seu trabalho de socorro. Então se alguém prefere a apometria, divorcie-se do Espiritismo. É um direito! Mas não misture para não confundir. A nossa tarefa é de iluminar, não é de eliminar. O espírito mau, perverso, cruel é nosso irmão na ignorância. Poderia haver alguém mais cruel do que o jovem Saulo de Tarso? Ele havia assassinado Estevão a pedradas, havia assassinado outros, e foi a Damasco para assassinar Ananias. Jesus não o colocou numa cápsula espacial e disparou para o infinito.
Apareceu a ele! Conquistou-o pelo amor: "Saulo, Saulo, por que me persegues?" Pode haver maior ternura nisso? E ele tomado de espanto perguntou: "Que é isto?" "- Eu sou Jesus, aquele a quem persegues". E ele então caiu em sí. Emmanuel usa esta frase: E caindo em si, quer dizer aquela capa do ego cedeu lugar ao encontro com o ser profundo, caindo em si. Ele despertou, e graças a ele nós conhecemos Jesus pela sua palavra, pelas suas lutas, pelo alto preço que pagou, apedrejado várias vezes até ser considerado morto, jogado por detrás dos muros nos lugares do lixo, dos dejetos ele foi resgatado pelos amigos e continuou pregando. Então os espíritos perversos merecem nossa compaixão e não nosso repúdio. Coloquemos-nos no lugar deles. Que sejas como conosco quando nós éramos maus e ainda somos aqui com nós. Basta que alguém nos pise no calcanhar ou nos tome aquilo que supomos que é nosso, para ver como irrompe a nossa tendência violenta e nós nos transformamos de um para outro momento. Não temos nada contra a Apometria, as correntes mento-magnéticas, aquelas outras de nomes muito esdrúxulos e pseudocientíficos. Não temos nada. Mas como espíritas, nós deveremos cuidar da proposta Espírita. E da minha condição de Espírita exercendo a mediunidade a mais de 54 anos, os resultados tem sido todos colhidos da árvore do amor e da caridade.
Não entrarei no mérito dos métodos, que são bastante chocantes para a nossa mentalidade espírita, que não admite ritual, gestual, gritaria, nem determinados comportamentos, porque a única força é aquela que vem de dentro. Para esta classe de espíritos são necessários jejum e oração."

Transcrito do programa Presença Espírita da Rádio Boa Nova
a partir de palestra de Divaldo Pereira Franco (Agosto/2001)

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Bíblia e Evangelho

 

A Bíblia (cujo nome quer dizer simplesmente: O Livro) é na verdade uma biblioteca, reunindo os livros diversos da religião hebraica. Representa a codificação da primeira revelação do ciclo do Cristianismo. Livros escritos por vários autores estão nela colecionados, em número de 42. Foram todos escritos em hebraico e aramaico e traduzidos mais tarde para o latim, por São Jerônimo, na conhecida Vulgata Latina, no século quinto da nossa era. As igrejas católicas e protestantes reuniram a esse livro os Evangelhos de Jesus, dando a estes o nome geral de Novo Testamento.

O Evangelho, como se costuma designar o Novo Testamento, não pertence de fato à Bíblia. É outro livro, escrito muito mais tarde, com a reunião dos vários escritos sobre Jesus e seus ensinos. O Evangelho é a codificação da segunda revelação cristã. Traz uma nova mensagem, substituindo o deus-guerreiro da Bíblia pelo deus-amor do Sermão da Montanha. No Espiritismo não devemos confundir esses dois livros, mas devemos reconhecer a linha histórica e profética, a linhagem espiritual que os liga. São, portanto, dois livros distintos.

O Espiritismo

A antiga religião hebraica é geralmente conhecida como Mosaísmo, porque surgiu e se desenvolveu com Moisés. A nova religião dos Evangelhos é designada como Cristianismo, porque vem do ensino do Cristo. Mas, assim como nas páginas da Bíblia está anunciado o advento do Cristo, também nas páginas do Evangelho está anunciado o advento do Espírito de Verdade. Esse advento se deu no século passado, com a terceira e última revelação cristã, chamada revelação espírita. Cinco novos livros aparecem, então, escritos por Allan Kardec, mas ditados, inspirados e orientados pelo Espírito de Verdade e outros Espíritos Superiores. Os cinco livros fundamentais do Espiritismo, que têm como base O Livro dos Espíritos, representam a codificação da terceira revelação. Essa revelação se chama Espiritismo porque foi dada pelos Espíritos. Sua finalidade é esclarecer os ensinos anteriores, de acordo com a mentalidade moderna, já suficientemente arejada e evoluída para entender as alegorias e símbolos contidos na Bíblia e no Evangelho. Mas enganam-se os que pensam que a Codificação do Espiritismo contraria ou reforma o Evangelho.


Sentido histórico da Bíblia
e a sua natureza profética

Qual a posição do Espiritismo diante do problema bíblico? Os recentes debates na televisão entre espíritas, pastores protestantes e sacerdotes católicos deram motivo a algumas incompreensões, das quais se aproveitaram adversários pouco escrupulosos da Doutrina Espírita, para lhe desfecharem novos e injustos ataques. Vamos procurar esclarecer, por estas colunas, a posição espírita, como já havíamos prometido.

Kardec define essa posição, desde O Livro dos Espíritos, como a de estudo e esclarecimento do texto, à luz da História e na perspectiva da evolução espiritual da Humanidade. No capítulo III desse livro, final do item 59, depois de analisar as contradições entre a Bíblia e as Ciências, no tocante à criação do mundo, ele declara: "Devemos concluir que a Bíblia é um erro? Não; mas que os homens se enganaram na sua interpretação".

Essas palavras de Kardec, sustentadas através de toda a Codificação, esclarecem a posição espírita. Devemos reconhecer na Bíblia a sua natureza profética (ou seja: mediúnica), encerrando a I Revelação, no ciclo histórico das revelações cristãs. Esse ciclo começa com Moisés (I Revelação), define-se com Jesus (II Revelação) e encerra-se com o Espiritismo (III Revelação). Os leitores encontrarão explicações detalhadas a respeito em O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, que é um manual de moral evangélica. O conceito espírita de Revelação, porém, não é o mesmo das religiões em geral. Revelar é ensinar, e isso tanto pode ser feito pelos Espíritos (revelação divina) quanto pelos homens (revelação humana), mas não por Deus "em pessoa", porque Deus age através de suas leis e dos Espíritos. A revelação bíblica, portanto, não pode ser chamada de "palavra de Deus". Ela é tão-somente a palavra dos Espíritos-Reveladores, e essa palavra é sempre adequada ao tempo em que foi proferida. Isto é confirmado pela própria Bíblia, como veremos no decorrer deste estudo.

A expressão "a palavra de Deus" é de origem judaica. Foi naturalmente herdada pelo Cristianismo, que a empregou para o mesmo fim dos judeus: dar autoridade à Igreja. A Bíblia, considerada "a palavra de Deus", reveste-se de um poder mágico: a sua simples leitura, ou simplesmente a audiência dessa leitura, pode espantar o Demônio de uma pessoa e convertê-la a Deus. Claro que o Espiritismo não aceita nem prega essa velha crendice, mas não a condena. A cada um, segundo suas convicções, desde que haja boa intenção.

 

Do livro Visão Espírita da Bíblia de J. Herculano Pires

Falta de controle motiva pensamento mágico

arquivado em Ciência Geral e Ceticismo, Mente e Cérebro @ 8.Oct.2008


pareidoliatoast21hjk

"Tribos das ilhas Trobriand que pescam no mar profundo, onde tempestades repentinas e águas desconhecidas são preocupações constantes, têm muito mais rituais associados à pesca do que aquelas que buscam peixes em águas mais rasas. Pára-quedistas vêem mais facilmente uma figura não-existente em um monte de ruído pouco antes de pular do que quando em terra. Jogadores de beisebol criam rituais em proporção direta à caprichosidade de sua posição – por exemplo, lançadores são particularmente propensos a enxergar conexões entre a camisa que vestem e seu sucesso. … Mesmo em nível nacional, quando os tempos são economicamente incertos, as superstições aumentam".

O trecho é parte de um trabalho publicado na Science nesta semana, que não se resume apenas a relatos. Jennifer Whitson e Adam Galinsky conduziram seis experimentos que confirmaram a tese de que a sensação de falta de controle aumenta a percepção de padrões ilusórios, fazendo pessoas verem algum significado onde realmente não há.

A série de experimentos é interessante pela variedade de padrões ilusórios que averigüou, como ver imagens em ruído, enxergar conspirações, desenvolver superstições e… formar correlações ilusórias sobre informações de bolsas de valores. Esta última parte, dado o contexto econômico atual, virou notícia.

"Experimentar uma perda de controle levou os participantes [do experimento] a desejar mais estrutura e a perceber padrões ilusórios. A necessidade de estar e sentir-se em controle é tão forte que os indivíduos produzirão um padrão a partir do ruído para levar o mundo de volta a um estado previsível", escrevem os pesquisadores.

Tão interessante quanto o achado principal é o detalhe de que os participantes do estudo que foram incentivados a se auto-afirmar, lembrando de um evento importante em suas vidas, viram menos imagens e conspirações ilusórias. Simples assim. [via Mindhacks]

Referência
- Lacking Control Increases Illusory Pattern Perception

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

As Conversas familiares

       Você já pensou, em algum momento, gravar as conversas familiares? Tem idéia a respeito do que se fala, no lar, às refeições, por exemplo? E do efeito desses diálogos sobre as mentes infantis?

        Pois um professor de Sociologia da Universidade da Pensilvânia realizou a experiência.

        O Dr. Bossard conseguiu fartos exemplos da conversa de famílias, à hora do jantar. E, embora não tivesse imaginado, descobriu alguns estilos, definidos pelos hábitos de conversação constante.

        Um dos mais evidentes foi o estilo crítico. Isto é, durante a refeição, não se falava nada de bom a respeito de alguém.

        O assunto constante eram os amigos, parentes, vizinhos, os aspectos de suas vidas, naturalmente sempre apresentados de forma negativa.

        Reclamava-se das filas no supermercado, do mau atendimento em lojas, da grosseria do chefe, enfim, das coisas ruins que existem no mundo.

        Essa atmosfera familiar negativa redundava, conforme as observações realizadas, em crianças insociáveis e malquistas. Portanto, com problemas acontecendo na escola, na vizinhança.

        Em outro grupo, as hostilidades da família se voltavam para dentro, contra si mesma.

        Dr. Bossard classificou o grupo como os brigões, porque, sem exceção, as refeições se constituíam em torneios de insultos e brigas.

        Tudo era motivo para acusações mútuas.

        Nesse caso, as crianças absorviam o estilo que lhes criava problemas. Mesmo que isso, por vezes, viesse a se revelar depois de já crescidas e casadas, nos novos lares constituídos.

        Um grupo de famílias revelou um estilo exibicionista. Num primeiro momento, o observador poderia se deixar encantar pelo brilho de espírito e o bom humor demonstrado por todos.

        Contudo, aprofundando-se na pesquisa, essas famílias revelaram que todos se portavam como se fossem atores.

        E cada qual desejava sobrepujar o outro, aparecer mais. Isso redundava em crianças que, onde estivessem, desejavam ser o foco das atenções.

        Quando assim não acontecia, elas se sentiam desprezadas e repelidas, limitando a sua simpatia e respeito pelos outros.

        Mas, afinal, será que nenhuma das famílias tinha bons hábitos de conversação?

        Claro que sim. Essas foram adjetivadas como portadoras de atitude correta de processo interpretativo.

        Nesse caso, as pessoas, os acontecimentos, os fatos são comentados pela família de forma tranqüila, com dignidade e, até, com senso de humor.

        As crianças são animadas a participar da conversa e são ouvidas com respeito. A nota dominante, nesse grupo familiar, é a compreensão.

                                                                *   *   *

        Se, ouvindo ou lendo esta mensagem, você se  deu conta de que sua família pertence a um dos grupos de conversação incorreta, não se perturbe.

        O estilo das conversas pode ser modificado. E pode começar hoje.

        O primeiro passo é descobrir o estilo dominante e, num esforço conjunto da família, modificar a conversação.

        Afinal, um grande Mestre disse um dia que o que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai dela.

        Pensemos nisso. Melhorar o estilo da conversa em família não é garantia absoluta de crianças ajustadas.

        Mas é um meio seguro de lhes proporcionar melhores oportunidades de uma vida equilibrada, pois o exemplo é forte ingrediente na formação do caráter.

Redação do Momento Espírita, com base no artigo
Cuidado com a conversa – Há crianças ouvindo, de
Thomas J. Fleming, da Revista Seleções do
Reader´s Digest, fevereiro de 1960.
Em 20.11.2008.

A Bíblia e o Pensamento Espírita

   Muitos irmãos espíritas não admitem 0 estudo do "Livro dos Livros", em nosso meio doutriná­rio. Contudo, Allan Kardec, em "A Gênese" (Ed. FEB) assim se expressa: "A Bíblia, evidentemen­te, encerra fatos que a razão, desenvolvida pela Ciência, não poderia hoje aceitar e outros que parecem estranhos e derivam de costumes que já não são os nossos. Mas, a par disso, haveria parcialidade em se não reconhecer que ela guarda grandes e belas coisas. A alegoria ocupa ali considerável espaço, ocultando sob o seu véu sublimes verdades, que se patenteiam, desde que se desça ao âmago do pensamento, pois que logo desaparece o absurdo.

   "Por que então não se lhe ergueu mais cedo o véu? De um lado, por falta de luzes que só a Ciência e uma sã filosofia podiam fornecer e, de outro lado por efeito do principio da imutabilidade absoluta da fé, conseqüência de um respeito ultracego a letra, e, assim, pelo temor de comprometer a estrutura das crenças, erguida sobre 0 sentido literal.» (Cap. IV, n* 6, pgs. 87 e 88).
Quanto à segunda parte da Bíblia - 0 Novo Testamento -, ou mais precisamente ao relato dos apóstolos Mateus, Marcos, Lucas e João 0 Codificador enfatiza, também na obra "A Gênese": "0 Espiritismo, longe de negar ou destruir o Evangelho, vem, ao contrário, confirmar explicar e desenvolver, pelas novas leis da Natureza que revela, tudo quanto 0 Cristo disse e fez- elucida os pontos obscuros do ensino cristão de tal sorte que aqueles para quem eram ininteligíveis certas partes do Evangelho ou pareciam inadmissíveis, as compreendem,e admitem sem dificuldade com 0 auxilio desta doutra vêem melhor 0 seu alcance e podem distinguir entre a realidade e a alegoria. Cristo lhes parece maior: já não é simplesmente um filósofo, é um Messias divino " (Cap. I, nº 41, Ed. FEB)
 
   Portanto, a doutrina espírita aceita as escrituras, estudando com imparcialidade e honestidade o seu conteúdo; sem fanatismo e sem a escravidão da letra. Baseados no raciocínio são, na razão, que repudia a fé cega, contrária à ciência e ao progresso, os espíritas sabem que a Bíblia foi escrita e traduzida por homens; portanto sujeita a erros e deslizes. De maneira nenhuma há aceitação da máxima "credo quia absurdum", fazendo de 0 «Livro dos Livros" uma verdadeira idolatria. Como ensinava Allan Kardec, deve-se observar 0 simbolismo e 0 espírito de que estão investidas as letras das Escrituras. Já o exegeta ortodoxo assim não procede e cumpre rigorosamente os ensinamentos que emanam dos textos  considerando-os divinos de capa a capa.
Emmanuel, trabalhador incansável do Cristo, através da psicografia de Francisco Candido Xavier nos diz: «O ato de crer em alguma coisa demanda a necessidade do sentimento e do raciocínio para que a alma edifique a fé em si mesma Admitir as afirmativas mais estranhas, sem um exame minucioso e caminhar para 0 desfiladeiro do absurdo onde os fantasmas dogmáticos conduzem as criaturas a todos os despautérios Mas também interferir nos proble­mas essenciais da vida sem que a razão esteja iluminada pelo sentimento e buscar 0 mesmo declive onde os fantasmas 'impiedosos da nega­ção conduzem as almas a muitos crimes". ("0 Consolador    ed   FEB   pág   201   6ª edição)

   Ainda hoje os admiradores não racionais da Bíblia aceitam a criação do mundo em seis dias de vinte e quatro horas. Acreditam que o Universo foi criado há seis mil anos discordando inteiramente da Ciência Interpretando contra a verdade a parábola do Gênesis negam a teoria da evolução e tacham-na de "demoníaca", apesar do grande desenvolvimento cultural e cientifico de nosso tempo revelar sua existência. Louvemos I Darwin, injuriado e anatematizado pela Igreja quando buscava a verdade através da razão! Embora a Astronomia nos revele a grandiosidade do Cosmos, com seu oceano de bilhões de galáxias continuam os conhecedores profundos de 0 "Livro dos Livros" a afirmar que a vida só existe na Terra, não entendendo 0 Cristo quando declarou: "Na casa de meu Pai ha muitas mo­radas..." (João 14:2). Realmente a casa do Pai é o Universo, e a vida não poderia ser criada somente em um minúsculo orbe do insignificante Sistema Solar, situado na borda exterior da grande Via - Láctea e iluminado por uma estrela de quinta grandeza, ofuscada por aproximadamente cem bilhões de outras, somente em nossa galáxia.
Tudo isso e negado com base na crença absoluta de livros que, embora inspirados, foram manipulados pelos homens nas suas diversas copias e traduções. 0 próprio São Jerônimo afirmou que fez correções, aumentos e modifi­cações em sua tradução dos manuscritos antigos. Os protestantes excluíram vários livros das Es­crituras, como 0 de Macabeus. A Bíblia protes­tante não traz 0 capitulo XIII de Daniel e a tradução de um exegeta não e a mesma de outro.

   A Bíblia sofreu muitos retoques e retificações.
   "A 'Enciclopédia das Ciências Religiosas', de F. Lichtenberger, relata a afirmação de A. Sabatier, decano da Faculdade de Teologia Protestante de Paris que os manuscritos originais dos Evange­lhos desapareceram, sem deixar nenhum vestígio certo na Hist6ria. Foram provavelmente destruídos por ocasião da proscrição geral dos livros cristãos, ordenada pelo imperador Deocleciano (edito imperial de 303). Os escritos sagrados que escaparam a destruição não são, por conseguin­te, senão cópias.

   "Primitivamente, não tinham pontuação esses escritos, mas, em tempo, foram divididos em pericopes, para comodidade da leitura em publi­co - divisões às vezes arbitrarias e diferentes entre si. A divisão atual apareceu pela primeira vez na edição de 1551.
"Apesar de todos os seus esforços, 0 que a critica pode cientificamente estabelecer de mais antigo foram os textos dos séculos V e IV. Não pode remontar mais longe senão por conjeturas sempre sujeitas a discussão.

   "Orígenes já se queixava amargamente do estado dos manuscritos no seu tempo. lrineu refere que populações inteiras acreditavam em Jesus sem a intervenção do papel e da tinta Não se escreveu imediatamente, porque era esperada a volta do Cristo. ("Cristianismo e Espiritismo" Léon Denis, 6* edição, pgs 270 e 271   Ed FEB)
 

-Depois da proclamação da divindade do Cristo, no século IV, depois da introdução, no sistema eclesiástico, do dogma da Trindade, no século VII, muitas passagens do Novo Testamen­to foram modificadas, a fim de que exprimissem as novas doutrinas (Ver João 1:5 e 7). Vimos, diz Leblois (145), na Biblioteca Nacional,, na de Santa Genoveva, na do mosteiro de Saint-Gall, manus­critos em que 0 dogma da Trindade está apenas acrescentado a margem. Mais tarde foi interca­lado no texto onde se encontra ainda". (Leon Denis - Cristianismo e Espiritismo, pág. 272)

 

   A referencia citada acima trata-se sem dúvidas de um enxerto e a Bíblia edição revista e atualizada tradução de João Ferreira de Almeida, da Sociedade Bíblica do Brasil 1969 0 coloca em colchetes 0 que não se,vê nas edições antigas da Imprensa Bíblica Brasileira e nem na «Bíblia de Jerusalém" das Edições Paulinas O texto por si só é bem  expressivo em relação à inserção  realizada pelos religiosos dogmáticos" Pois há três que dão testemunho [no céu- o Pai, a palavra e o Espírito Santo; e estes três são um. E três são os que testificam na Terra]: o Espírito, a água e o sangue... (1ª Epístola de João, capítulo 5, versículo 7). 

               

Já em outro texto (Mateus 28.19), marcadamente adulterado, nem colchetes são encontrados: "Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto fazei discípulos em todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo". (Os grifos são do autor)

 

E estranho que 0 rito do batismo não foi praticado pelo Mestre, conforme ensino enfático de João: "Jesus mesmo não batizava, e, sim, os Seus discípulos" (capitulo 4, versículo 2). Outrossim, desde que começou 0 ministério do Cristo na Galileia não se ouviu mais falar em batismo, a não ser 0 que foi ventilado, após Sua "ressur­reição", no texto evidentemente apócrifo, citado acima (Mateus 28:19).

 

Os apóstolos mantiveram 0 ritual do batismo, simbolizando uma pratica original desde os tem­pos de Moises (Êxodo 19:10); embora, na maio­ria dos casos, segundo relato do Evangelho, era seguida do "derramamento do Espírito Santo", isto e, do intercâmbio mediúnico com os envia­dos espirituais do Mestre (ver capitulo III - "O Mestre dos Mestres" e capitulo IV - "O Espírito Santo»). Na realidade, 0 batismo emblemático de João Batista, no rio Jordão, correspondente a remissão dos pecados (Marcos 1:4), deixou de existir com 0 advento de Jesus. Disse 0 Tesbita: «Eu, na verdade, vos batizo com água para 0 arrependimento; mas aquele que ha de vir depois de mim, e mais poderoso do que eu e não sou digno de levar-lhe as sandálias. Ele vos

batizará com 0 Espírito Santo e com fogo (Mateus. 3:11). Não mais o culto externo, o cerimonial ritualístico, a mera formalidade. Nesse sentido, à cata do sinal exterior, muitos fariseus e saduceus foram ao batismo de João Batista e o Precursor os rechaçou, exortando-os primeiro ao arrependimento de seus erros, a viverem uma nova vida com honestidade e sinceridade, reu­nindo a mascara da hipocrisia e do preconceito. Aqueles que desejam seguir em verdade as palavras do Cristo serão sempre agraciados com a presença do Consolador prometido por Jesus ou "Espírito Santo" que corresponde a comu­nhão com as entidades espirituais mensageiras do Mestre: "Não vos deixareis órfãos" (João 14:18) "Eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro Consolador a fim de que esteja sempre convosco" (João 1416) «O Consolador ou Espírito Santo a quem o Pai enviara em meu nome, esse vos ensinara todas as cousas e vos fará lembrar de tudo 0 que vos tenho dito" (João 14-26). "O Consolador não falará por si mesmo mais dirá tudo que tiver ouvido e vos anunciará as cousas que hão de vir" (João 16:13)

 

   Já ser batizado com fogo e possuir a razão, principalmente discernimento das coisas espirituais. Fogo representa purificação pelo calor: libertação das impurezas dos dogmas e dos cultos exteriores; usar o raciocínio e a lógica nas questões espirituais; 0 remorso que induz a criatura a retificação de seus erros; a dor da provação e da expiação, taxadas como "mistério" pelas religiões tradicionais.

 

Se de fato 0 batismo e imprescindível à "salvação" da humanidade, 0 apóstolo João nunca deixaria de omitir 0 chamado batismo de Jesus, realizado pelo Precursor, já que 0 "discípulo amado" sempre acompanhava 0 Mestre. Na verdade o Cristo veio "cumprir toda a justiça" (Mateus 3:15), ou seja, revelar ao Batista e aos seus contemporâneos a presença do Messias e Sua missão grandiosa, através de dois fenômenos mediúnicos marcantes: a materialização ("... descendo como pomba" - Mateus 3:16) e a voz direta ("Este e 0 meu filho amado, em quem me comprazo" - Mateus 3:17).

 

O dogma da Santíssima Trindade, imposto pelo clero aos cristãos no ano 325 D.C , no século IV depois do advento de Jesus, não tem alicerce bíblico: "0 Consolador não falará por si mesmo, mas dirá tudo 0 que tiver ouvido" (João 16:13). Representa, portanto, um conjunto de Espíritos, de elevada hierarquia, arautos de Deus e do Mestre. De forma nenhuma 0 próprio Criador: "Não falara por si mesmo.. Quanto a deificação de Jesus, tão bravamente combatida pelo sacerdote de Alexandria, Ário, pedimos ao leitor que busque 0 capitulo V desta obra.


Do livro Razão e Dogma, de Américo D. Nunes Filho

 

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Centro Espírita - uma revisão estrutural I

EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO
O problema de definição conceitual e estrutural dos centros espíritas é estudado neste capítulo. Se olhamos para o conjunto dos centros, identificaremos grande indefinição e heterogeneidade, dificultando uma definição precisa. Discuto essa heterogeneidade e algumas características problemáticas da estrutura atual dos centros. Proponho depois um modelo conceitual.
Para entender o que são os centros hoje é fundamental que se reveja a sua história. Por isso inicio por um levantamento de aspectos históricos relevantes. São dados que esclarecem as origens de diversas características atuais dos centros espíritas. Não há aqui espaço suficiente para um detalhamento, mas o tema pode ser aprofundado através das referências indicadas.
1.1. ASPECTOS HISTÓRICOS
Para entendermos a origem dos grupos espíritas temos que buscar os grupos que os antecederam, surgidos antes do trabalho de elaboração do Espiritismo, realizado por Allan KARDEC na França. Como ignorar os grupos de magnetistas e magnetizadores, com destaque para os seguidores de MESMER, que foram muitos no final do século XVIII e início do XIX na França?7 Como deixar de considerar os diversos grupos de adeptos do "modern spiritualism" que surgiram nos Estados Unidos a partir dos fenômenos ocorridos com as irmãs FOX?8 E os grupos que passaram a realizar reuniões de mesas girantes na Europa, em meados do século XIX, que na França acabaram por chamar a atenção de KARDEC?9 Muitos médiuns, magnetizadores e mágicos polarizaram a criação de grupos mais ou menos efêmeros, mais ou menos sérios, em torno de si.
Esses agrupamentos são os antecessores dos grupos espíritas criados no período pós-KARDEC e dos grupos espíritas atuais. É com KARDEC, no entanto, a partir de 1855, que o Espiritismo ganha feição doutrinária.10 Ele lançou O livro dos espíritos em 1857, com as bases da nova doutrina11 e fundou, em 1858, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (SPEE), cujos estatutos foram publicados posteriormente em O livro dos médiuns para servir de modelo aos centros espíritas que nasciam por toda parte.12 A SPEE, sob a coordenação do próprio KARDEC, firmou uma metodologia de estudo e pesquisa da mediunidade, documentada sobretudo através da Revista espírita.13
FÁVARO, DEL CHIARO e PALAZZI fazem um estudo do "perfil psicossocial do freqüentador dos centros espíritas do tempo de KARDEC" e concluem: "Chegamos à conclusão de que os fenômenos espíritas foram estudados num primeiro momento por homens aristocratas da nobreza européia. Não eram "João Ninguém" e também não eram cientistas, pois viam no fenômeno mais um passatempo do que ciência. Isto não invalidou suas pesquisas, pois na verdade elas incomodaram os cientistas, que viam naqueles fenômenos a ignorância, o misticismo, a superstição do povo ou o cambalacho de alguns espertalhões."
Os autores comparam esses dados com a realidade de nossos centros, afirmando que na França os freqüentadores eram nobres, intelectuais, pesquisadores da alta burguesia e classe média à procura de comprovações científicas da imortalidade da alma.
"Não era o sofrimento, a angústia existencial, o medo do futuro, a doença e a pobreza. Não era a consolação ou a cura da loucura, da obsessão."
No Brasil esses motivos se tornaram os principais para a criação e manutenção de centros espíritas. O trabalho de KARDEC influenciou fortemente a estruturação dos grupos franceses e, por conseqüência, teve grande impacto sobre os primeiros agrupamentos brasileiros. Ubiratan MACHADO16 relata que na Bahia "a repressão do clero aguçou fortemente o instinto de luta dos pioneiros. Em meados da década de 1860, Salvador conheceu uma explosão espírita de que não há paralelo no Brasil. As obras de KARDEC, lidas em francês, eram discutidas apaixonadamente nas classes mais cultas."
Segundo Ubiratan MACHADO, o primeiro centro kardecista surgiu na Bahia:
"Oficialmente, a eclosão do Espiritismo brasileiro se daria neste ano (1865) quando, em Salvador, foi fundado o Grupo Familiar de Espiritismo, o primeiro centro Kardecista de conhecimento público, do país. Sob a direção do Dr. Luís Olímpio Teles de Menezes, o maior apóstolo do Espiritismo em seus inícios no Brasil, realizou-se ali, às 22,30 horas do dia 17 de setembro de 1865, a primeira sessão registrada nos anais da doutrina espírita, no Brasil. Uma hora após o início dos trabalhos, os membros recebiam a primeira mensagem psicografada de nossa terra e divulgada de forma oficial. Estava assinada por "Anjo de Deus"
Em Salvador e no Rio de Janeiro os grupos foram se multiplicando. Antonio Cesar Perri de CARVALHO cita os seguintes grupos na Capital: Grupo Confucius (criado em 1873), Sociedade Espírita Fraternidade (1880), Sociedade de Estudos Espíritas Deus, Cristo e Caridade (1876) e União Espírita do Brasil. "Em 1884 era fundada a Federação Espírita Brasileira"18 (FEB). A FEB esteve, desde a sua fundação, no centro das lutas pela hegemonia do movimento espírita brasileiro. Os grupos espíritas brasileiros foram aos poucos adquirindo características próprias. Surgiu e cresceu o "sincretismo afro-espírita-católico":
"Ao lado do kardecismo, desenvolveu-se um vigoroso Espiritismo popular. Em alguns momentos a vitalidade deste chegou a parecer uma ameaça à sobrevivência da doutrina de KARDEC em sua pureza. A ameaça, porém, era apenas aparente. O caminho dos vários Espiritismos, apesar dos atalhos de ligação e das influências recíprocas, sempre foram distintos."
O caminho dos centros espíritas após os anos 30 foi estudado por Carlos Roberto de MESSIAS:
"Dos círculos experimentais franceses aos grupos quase esotéricos do Império, os centros espíritas pós trinta se transformaram mais nitidamente em templos, prontossocorros e casas de caridade em auxílio de um mundo esquizo que vai deixando de ser rural." As características identificadas historicamente pelos autores citados tornaram-se majoritárias, com o tempo, no crescente número de centros espíritas brasileiros. Uma análise dessas características na atualidade nos leva à identificação de confrontos entre muitas delas e o próprio Espiritismo, como desenvolvo a seguir.
do livro Centro Espírita - uma revisão estrutural, de Mauro de Mesquita Spinola

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O ESPIRITISMO SEM OS ESPÍRITOS - Allan Kardec

 
Vimos recentemente uma seita tentar se formar, ostentando por bandeira: A negação da prece. Acolhida, em seu início, por um sentimento geral de reprovação, nem mesmo viveu. Os homens e os Espíritos se uniram para repelir uma doutrina que era, ao
mesmo tempo, uma ingratidão e uma revolta contra a Providência. Isto não era difícil, porque, ferindo o sentido íntimo da imensa maioria, trazia em si o seu próprio princípio destruidor. (Revista de janeiro de 1866). Eis agora uma outra que tenta sobre um novo
terreno; ela tem por divisa: Não mais comunicações dos Espíritos. É bastante singular que esta opinião seja hoje preconizada por alguns daqueles que outrora exaltaram a importância e a sublimidade dos ensinos espíritas, e se glorificavam daquilo que eles
mesmos recebiam como médiuns. Tem ela mais chance de sucesso que a precedente? É o que iremos examinar em algumas palavras.
Esta doutrina, podendo se dar esse nome a uma opinião restrita a algumas individualidades, se funda sobre os dados seguintes:
 
"Os Espíritos que se comunicam não são senão Espíritos comuns que não aprenderam, até hoje, nenhuma verdade nova, e que provam a sua incapacidade não saindo das banalidades da moral. O critério que se pretende estabelecer sobre a concordância de seus ensinos é ilusório, em conseqüência de sua insuficiência. Cabe ao homem sondar os grandes mistérios da Natureza, e submeter o que dizem ao controle de sua própria razão. Suas comunicações não podendo nada nos ensinar, as proscrevemos de nossas reuniões. Discutiremos entre nós; procuraremos e nos decidiremos, em nossa sabedoria, são princípios que devem ser aceitos ou rejeitados, sem recorrer ao
consentimento dos Espíritos."
 
Anotemos que não se trata de negar o fato das manifestações, mas de estabelecer a superioridade do julgamento do homem, ou de alguns homens, sobre o dos Espíritos; em uma palavra, de livrar o Espiritismo do ensino dos Espíritos: as instruções destes últimos
estando abaixo daquilo que pode a inteligência dos homens.
 
Esta doutrina conduz a uma singular conseqüência, que não daria uma alta idéia da superioridade da lógica do homem sobre a dos Espíritos. Sabemos, graças a estes últimos, que aqueles de ordem mais elevada pertenceram à Humanidade corpórea que
desde muito tempo a ultrapassaram, como o general ultrapassou a classe do soldado da qual tinha saído. Sem os Espíritos, estaríamos ainda na crença de que os anjos são criaturas privilegiadas, e os demônios criaturas predestinadas ao mal pela eternidade.
 
"Não, dir-se-á, porque houve homens que combateram essa idéia." Seja; mas quem eram esses homens, senão os Espíritos encarnados? Qual influência a sua opinião isolada teve sobre a crença das massas? Perguntai a qualquer um se ele conhece somente de nome a
maioria desses grandes filósofos? Ao passo que os Espíritos, vindo sobre toda a superfície da Terra se manifestar, ao mais humilde como ao mais poderoso, a verdade se propagou com a rapidez do relâmpago.
 
Os Espíritos podem se dividir em duas grandes categorias: os que, chegados ao mais alto ponto da escala, deixaram definitivamente os mundos materiais, e aqueles que, pela lei da reencarnação, pertencem ainda ao turbilhão da Humanidade terrena. Admitamos que só estes últimos têm o direito de se comunicar com os homens, o que é uma questão: entre eles há os que, quando vivos, foram homens esclarecidos, cuja opinião teve autoridade, e que se estaria feliz em consultar se vivessem ainda. Ora, da doutrina acima resultaria que esses mesmos homens superiores tornaram-se nulidades ou mediocridades passando no mundo dos Espíritos, incapazes de nos dar uma instrução de algum valor, ao passo que se inclinaria respeitosamente diante deles se se apresentassem em carne e osso nas próprias assembléias onde se lhes recusa escutar como Espíritos. Disto resulta ainda que Pascal, por exemplo, não é mais uma luz desde
que é Espírito; mas que, se ele reencarnasse em Pedro ou Paulo, necessariamente com o mesmo gênio, uma vez que nada teria perdido, seria um oráculo. Esta conseqüência é de tal modo rigorosa, que os partidários desse sistema admitem a reencarnação como uma
das maiores verdades. Seria preciso disso induzir, enfim, que aqueles que colocam, de muito boa-fé nós o supomos, sua própria inteligência tão acima da dos Espíritos, serão eles mesmos as nulidades ou as mediocridades, cuja opinião será sem valor; de tal sorte
que seria preciso crer naquilo que dizem, hoje que vivem, e que não seria preciso mais crer amanhã, quando estarão mortos, então mesmo que viessem dizer a mesma coisa, e ainda menos se viessem dizer que se enganaram.
 
Sei que se objeta a grande dificuldade da constatação da identidade. Esta questão foi amplamente tratada para que seja supérfluo nela retornar. Seguramente, não podemos saber, por uma prova material, se o Espírito que se apresente sob o nome de Pascal é
realmente o do grande Pascal. Que nos importa, se diz boas coisas! Cabe a nós pesar o valor de suas instruções, não à forma da linguagem, que se sabe, freqüentemente, levar a marca de inferioridade do instrumento, mas à grandeza e à sabedoria dos pensamentos.
 
Um grande Espírito que se comunique por um médium pouco letrado é como um hábil calígrafo que se serve de má caneta; o conjunto da escrita levará a marca de seu talento, mas os detalhes de execução, que não dependem dele, serão imperfeitos. Jamais o Espiritismo disse que seria preciso fazer abnegação de seu julgamento, e submeter-se cegamente ao que dizem os Espíritos; são os próprios Espíritos que nos dizem para passar todas as suas palavras pelo cadinho da lógica, ao passo que certos encarnados dizem: "Não creiais senão naquilo que dizemos, e não creiais no que dizem os Espíritos." Ora, como a razão individual está sujeita a erro, e que o homem, muito geralmente, é levado a tomar sua própria razão e suas idéias pela única expressão da verdade, aquele que não tem a orgulhosa pretensão de se crer infalível a refere à apreciação da maioria. Por isto abdicou de sua opinião? De nenhum modo; é perfeitamente livre de crer que só ele tem a razão contra todos, mas não impedirá a opinião da maioria de prevalecer, e de ter, em definitivo, mais autoridade do que opinião de um só ou de alguns.
 
Examinemos agora a questão sob um outro ponto de vista. Quem fez o Espiritismo? É uma concepção humana pessoal? Todo o mundo sabe o contrário. O Espiritismo é resultado do ensino dos Espíritos; de tal sorte que, sem as comunicações dos Espíritos, não haveria Espiritismo. Se a Doutrina Espírita fosse uma simples teoria filosófica eclodida no cérebro humano, não teria senão valor de uma opinião pessoal; saída da universalidade do ensino dos Espíritos, ela tem o valor de uma obra coletiva, e foi por isto mesmo que em tão pouco tempo se propagou por toda a Terra, cada um recebendo por si mesmo, ou por suas relações íntimas, instruções idênticas e a prova da realidade das manifestações.
 
Pois bem! é em presença deste resultado patente, material, que se tenta erigir em sistema a inutilidade das comunicações dos Espíritos. Convenhamos que se elas não tivessem a popularidade que adquiriram, não seriam atacadas, e que é a prodigiosa vulgarização dessas idéias que suscita tantos adversários ao Espiritismo. Aqueles que rejeitam hoje as comunicações não se parecem com essas crianças ingratas que renegam e desprezam seus pais? Não é ingratidão para com os Espíritos, a quem devem o que sabem? Não é se servir daquilo que deles aprenderam para combatê-los, retornar contra eles, contra seus próprios pais, as armas que nos deram? Entre os Espíritos que se manifestam, não é do Espírito de um pai, de uma mãe, dos seres que nos são mais caros, que se recebem essas tocantes instruções que vão diretamente ao coração? Não é a eles que se deve o ter sido arrancado à incredulidade, às torturas da dúvida sobre o futuro, e é então que se goza do benefício, que se despreza a mão do benfeitor!
 
Que dizer daqueles que, tomando sua opinião pela de todo o mundo, afirmam seriamente que, agora, em nenhuma parte se quer comunicações? Estranha ilusão! que um olhar lançado ao redor deles bastaria para fazer desvanecer-se. De seu lado, que devem pensar os Espíritos que assistem às reuniões onde se discute se se devem condescender em escutá-los, se se deve ou não lhes permitir excepcionalmente a palavra para comprazer àqueles que tiveram a fraqueza de ter suas instruções? Ali se encontram, sem dúvida, Espíritos diante dos quais cairiam de joelhos se, nesse momento, se apresentassem à sua visão. Pensou-se no preço que se poderia pagar uma tal ingratidão?
 
Tendo os Espíritos a liberdade de se comunicarem, sem relação com o grau de seu saber, disto resulta uma grande diversidade no valor das comunicações, como nos escritos, em um povo onde todo o mundo tem a liberdade de escrever, e onde certamente todas as produções literárias não são obras-primas. Segundo as qualidades individuais dos Espíritos, há, pois, comunicações boas pelo fundo e pela forma, outras que são boas pelo fundo e más pela forma, outras, enfim, que não valem nada, nem pelo fundo nem pela forma; cabe a nós escolher. Não seria mais racional rejeitá-las todas porque são más, do que o seria de proscrever todas as publicações porque há escritores que dão baixezas. Os melhores escritores, os maiores gênios, não têm partes fracas em suas obras? Não se fazem coletâneas do que produziram de melhor? Façamos o mesmo com respeito às produções dos Espíritos; aproveitemos o que há de bom e rejeitemos o que é mau; mas para arrancar o joio, não arranquemos o bom grão.
 
Consideramos, pois, o mundo dos Espíritos como o duplo do mundo corpóreo, como uma fração da Humanidade, e dizemos que não devemos mais desdenhar de ouvi-los, agora que estão desencarnados, que não o tivéssemos feito então quando estávamos encarnados; eles estão sempre em nosso meio, como outrora; somente estão atrás da cortina, em lugar de estar diante: eis toda a diferença.
Mas, dir-se-á, qual é a importância dos ensinos dos Espíritos, mesmo naquilo que há de bom, se não ultrapassa aquilo que os homens podem saber por si mesmos? É bem certo que não nos ensinam nada de mais? Em seu estado de Espírito não vêem o que não podemos ver? Sem eles, conheceríamos seu estado, sua maneira de ser, suas sensações? conheceríamos, como o conhecemos hoje, esse mundo onde estaremos talvez amanhã? Se esse mundo não tem mais para nós os mesmos terrores, se o encaramos sem temer a passagem que a ele conduz, não é a eles que o devemos? Esse mundo está completamente explorado? Cada dia não nos revelam dele uma nova face? e não é nada saber onde se vai, e o que se pode ser saindo daqui? Outrora ali se entrava tateando e tremendo, como num abismo sem fundo; agora esse abismo está resplendente de luz, e se está entre felizes; e há quem ouse dizer que o Espiritismo nada nos ensinou!
(Revista Espírita, agosto de 1865, página 225: "O que ensina o Espiritismo.") Sem dúvida, o ensino dos Espíritos tem seus limites, não se pode pedir-lhe o que não pode dar, o que está em sua essência, em seu objetivo providencial, ele dá sempre àquele que sabe procurar; mas, tal qual é, dele fizemos todas as aplicações? Antes de lhe pedir mais, sondamos a profundeza dos horizontes que nos descobre? Quanto à sua importância, ela se afirma por um fato material, patente, gigantesco, desconhecido nos fatos da história: é que apenas em sua aurora, ele revoluciona já o mundo e põe em emoção os poderes da Terra. Qual é o homem que teria tido este poder?
O Espiritismo tende à reforma da Humanidade pela caridade; não é, pois, de se admirar que os. Espíritos preguem sem cessar a caridade; pregá-la-ão ainda por muito tempo enquanto não tiver desenraizado do coração dos homens o egoísmo e o orgulho.
Se é que nele acham as comunicações inúteis, porque repetem sem cessar as lições de moral, é preciso felicitá-los, se são bastante perfeitos para delas não terem mais necessidade; mas devem pensar que aqueles que têm tanto mais confiança em seu próprio mérito e que têm no coração se melhorarem, não deixam de receber os bons conselhos. Não procureis, pois, a lhes tirar essa consolação.
 
Tem esta doutrina chances de prevalecer? As comunicações dos Espíritos, como dissemos, fundaram o Espiritismo. Repeli-las depois de tê-las aclamado é querer solapálo por sua base, tirar-lhe a pedra em que se assenta; tal não pode ser o pensamento dos Espíritas sérios e devotados, porque isto seria absolutamente como aquele que se dissesse cristão negando o valor dos ensinos do Cristo, sob o pretexto de que sua moral é idêntica à de Platão. Foi nessas comunicações que os Espíritas encontraram a alegria, a consolação, a esperança; foi por elas que compreenderam a necessidade do bem, da resignação, da submissão à vontade de Deus; foi por elas que suportaram com coragem as vicissitudes da vida, por elas é que não há mais separação real entre eles e os objetos de suas mais ternas afeições. Não é se equivocar sobre o coração humano, crendo que possa renunciar a uma crença que lhe faz a felicidade!
 
Repetimos aqui o que dissemos a propósito da prece: Se o Espiritismo deve ganhar em influência, é aumentando a soma das satisfações morais que ele proporciona. Que aqueles que o achem insuficientes tal qual é se esforcem em dar mais do que ele; mas não é em dando menos, tirando-lhe o que nele faz o encanto, a força e a popularidade que o suplantarão.
 
Revista Espírita, 1966, Allan Kardec.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Criança Índigo

Vira e mexe este assunto retorna, começam as discussões e os debates. Aqueles que são contra são firmes e em alguns casos intolerantes, os que são a favor são melindrosos, se enfurecem à menor crítica.

Não estou aqui pra dizer se é certo ou errado, porque cada um tem a sua verdade, todos nós temos o livre arbítrio para acreditarmos no que quisermos. Apenas tenho um pequeno desejo de esclarecer que a Criança Índigo não é um conceito espírita, pode ser um conceito espiritualista e esotérico, mas não é espírita.

A primeira questão é com relação a Dra. Nancy Ann Tappe. Qualquer texto sobre o assunto cita esta pessoa, como o próprio Divaldo o faz em seu livro sobre o assunto: “A Dra. Nancy Ann Tappe estabeleceu que as crianças índigo são seres especiais. Foi ela uma das pioneiras nos Estados Unidos a estudá-las.” No rodapé há uma nota explicando que ela foi a primeira a usar esta terminologia e descrever crianças índigo na publicação de seu livro Understanding Your Live Through Color em 1982. Eu acredito que Divaldo o tenha feito, mas a impressão que tenho é que ninguém aqui no Brasil tenha lido este livro, mesmo porque, eu não o encontrei aqui para vender.

Desta forma todo o conceito está baseado na opinião de os autores de “Crianças índigo” Lee Carrol e Jan Tober. Até aí, tudo bem, se não fossem eles os criadores do Grupo Kryon, “Este encontro representa a reunião anual de Kryon (em Dezembro de cada ano) na «Residência da Terra», na Califórnia do Sul, a casa base de Lee Carroll e Jan Tober.”. Não vim falar deste grupo, mas fica difícil falar de criança índigo sem citá-lo, pois estes conceitos se relacionam. Vejamos agora o que Kryon, do Serviço Magnético fala sobre estas crianças, os grifos são meus:

“As Crianças Índigo chegarão a tempo de realizarem, pelo menos, a maior parte da sua tarefa?

Lembrar-se-ão de que lhes ofereci informação relativa às cores áuricas da Nova Energia. Falei, especificamente, dos novos azuis escuro que chegariam neste tempo. Esses são, sem dúvida, aqueles a quem vocês chamam «crianças índigo». Nesta fase particular, porém, qualquer Ser Humano que se encontre nesse estado é uma criança. A vossa pergunta leva-me a crer que vocês consideram este grupo como tendo um propósito especial, mas não é assim. Estes indivíduos são, simplesmente, novas expressões com características que vocês não possuem:

1) Uma vibração mais elevada;

2) Uma programação que invalida certos atributos astrológicos que, habitualmente, afectam os Humanos;

3) Um dispositivo biológico específico, que lhes permite manejar melhor as impurezas fabricadas pelos próprios Humanos do planeta, as quais fazem parte do vosso actual estilo de vida.

Estes indivíduos chegam como uma nova raça de expressão, como herdeiros de tudo o que vocês ajudaram a criar (uma programação diferente). Aqueles Seres Humanos terrenos que venham a desencarnar durante este tempo (e haverá muitos, tal como se disse na resposta às perguntas anteriores), poderão regressar imediatamente neste novo estado (se for conveniente), ajudando assim o planeta na Nova Era do Poder.
Não é garantido que estes indivíduos sejam necessariamente mais iluminados do que os outros, ou que se juntem grupalmente para executarem tarefas planetárias específicas. No entanto, à medida que vão crescendo, alguns poderão passar mais facilmente através das difíceis transições humanas até à Iluminação. Em fases muito precoces da sua vida serão capazes de, juntamente convosco, ajudar nas tarefas de elevação da vibração do planeta.
No que acabo de vos transmitir, há dois aspectos que são muito evidentes, sendo que um deles responde diretamente à vossa pergunta:

1) A razão pela qual tanta gente deve abandonar o planeta neste momento é para poderem ter a possibilidade de regressar como Crianças Índigo. Compreendem agora o impacto disso na transição do planeta?

2) Se elas já estão a chegar com o novo dispositivo, então vocês já conhecem o fulcro do futuro. Naturalmente, todos sabem do que um Ser Humano ainda precisa para amadurecer. Portanto se me perguntarem se ainda precisarão de continuar a trabalhar plenamente (pela Terra) durante 20 anos ou mais, a resposta é afirmativa. Esta revelação, talvez diferente da que esperavam, proporciona um enquadramento temporal projectado para o futuro. É a nossa previsão, baseada no grau de consciência e de iluminação no momento desta canalização. Sim, as Crianças Índigo terão tempo.”

Que curioso, o próprio Kryon diz que as crianças índigos nada mais são do que nós mesmos reencarnados e que isto não quer dizer que elas sejam mais iluminadas do que nós. Mas como devido a nossa inferioridade, santo de casa não faz milagre, estas crianças que achamos serem especiais só podem ter vindo de outro planeta. Como se isto fizesse alguma diferença.
Outra coisa que parecem confundir é aura com perispírito. A aura humana pode ser descrita como uma radiação ou uma emanação fina, etéreo que cercam cada ser humano vivo. Ela pode ser vista através das fotos Kirlian, e refletem nosso estado energético. Mas ela não pode ser o perispírito, pelo que dizem os espíritos no O Livro dos Espíritos:

“93. O Espírito propriamente dito vive a descoberto, ou, como pretendem alguns, envolvidos por alguma substância?

- O Espírito é envolvido por uma substância que é vaporosa para ti, mas ainda bastante grosseira para nós; suficientemente vaporosa, entretanto, para que ele possa elevar-se na atmosfera e transportar-se para onde quiser.

Como a semente de um fruto é envolvida pelo perisperma, o Espírito propriamente dito é revestido de um envoltório que, por comparação, se pode chamar perispírito.

95. O envoltório semi-material do Espírito tem formas determinadas e pode ser perceptível?

- Sim, uma forma ao arbítrio do Espírito; e é assim que ele vos aparece algumas vezes, seja nos sonhos, seja no estado de vigília, podendo tomar uma forma visível e mesmo palpável.”

Se a aura é o perispírito ou corpo astral, como alguns gostam de chamar, fantasma seria colorido. O espírito de uma criança índigo seria sempre azulado, e se o perispírito evolui junto com o espírito, poderíamos aferir seu grau evolutivo pela cor do espírito. Se você discorda disso, é porque concorda que aura não é perispírito, mas se ainda tem dúvidas, vamos refletir um pouco mais. Comumente se ensinam vários exercícios, principalmente de respiração para recarregar a aura. Isto significa que ela se descarrega, será que ela pode se romper? E se ela é recarregada através de exercícios físicos, um espírito desencarnado como fará para recarregar seu perispírito, nesta suposição de ser ambos a mesma coisa?

Na questão 65, Kardec pergunta: “O princípio vital reside num dos corpos que conhecemos?
- Ele tem como fonte o fluido universal; é o que chamais fluido magnético ou fluido elétrico animalizado. É o intermediário, o liame entre o espírito e a matéria.” Aqui, muitos podem compreender que o liame seja o perispírito, mas a questão 70 retira toda possibilidade de mal entendido:
“70. Em que se transformam a matéria e o princípio vital dos seres orgânicos, após a morte?
- A matéria inerte se decompõe e vai formar novos seres; o princípio vital retorna à massa.” Ou seja, se o liame é o perispírito, o espírito desencarnado não o tem, porque ele voltou à massa.

Ainda neste capítulo, Kardec afirma:
“A quantidade de fluido vital não é a mesma em todos os seres orgânicos: varia segundo as espécies e não é constante no mesmo indivíduo, nem nos vários indivíduos de uma mesma espécie. Há os que estão, por assim dizer, saturados de fluido vital, enquanto outros o possuem apenas em quantidade suficiente. É por isso que uns são mais ativos, mais enérgicos e, de certa maneira, de vida superabundante.
A quantidade de fluido vital se esgota. Pode tornar-se incapaz de entreter a vida, se não for renovada pela absorção e assimilação de substâncias que o contém.
O fluido vital se transmite de um indivíduo a outro. Aquele que o tem em maior quantidade pode dá-lo ao que tem menos, e em certos casos fazer voltar uma vida prestes a extinguir-se.”

Esta descrição não é racionalmente mais coerente com o conceito de aura?
Agora Renato Costa fez uma boa análise do item Forma e Ubiqüidade dos Espíritos, do cap I do Livro Segundo e que fala sobre cor. Vou transcrevê-la abaixo:

Em O Livro dos Espíritos, tem-se o seguinte diálogo entre Allan Kardec e os Espíritos que ditaram a Codificação com respeito à forma do Espírito:
88. Os Espíritos têm forma determinada, limitada e constante?
“Para vós, não; para nós, sim. O Espírito é, se quiserdes, uma chama, um clarão, ou uma centelha etérea”.
a) - Essa chama ou centelha tem cor?
“Tem uma coloração que, para vós, vai do colorido escuro e opaco a uma cor brilhante, qual a do rubi, conforme o Espírito é mais ou menos puro”.
Representam-se de ordinário os gênios com uma chama ou estrela na fronte. É uma alegoria, que lembra a natureza essencial dos Espíritos. Colocam-na no alto da cabeça, porque aí está a sede da inteligência.
Analisemos primeiro, a frase inicial da resposta: “Para vós, não; para nós, sim”.
Trata-se aqui da diferença existente entre o que os Espíritos desencarnados podem perceber, usando seus sentidos sutis e aquilo que os Espíritos encarnados podem perceber, usando seus sentidos físicos.
De fato, a própria Ciência nos ensina o quão limitada é a percepção da realidade que nossos sentidos físicos nos propiciam. As faixas de freqüência que nossos sentidos da visão e da audição capturam são extremamente estreitas assim como impróprio é o nosso tato para a realidade mais sutil como, por exemplo, a das ondas mais diversas de comunicação que nos envolvem em todas as direções.
Nas dimensões espirituais, o Espírito está livre das restrições impostas pela matéria. Sua percepção da realidade, portanto, é infinitamente mais rica, logrando ele perceber cores e formas que, encarnado sequer poderia descrever.
Analisemos, agora, a segunda parte da resposta:
“O Espírito é, se quiserdes, uma chama, um clarão, ou uma centelha etérea”.
Uma chama, um clarão ou uma centelha etérea são elementos caracterizados, os três, basicamente, pela sua tonalidade de cor, sua intensidade de brilho e o calor que possuem. Os três são, por outro lado, desprovidos de forma precisa. Desse modo, os Espíritos confirmaram o que antes haviam dito, isto é, que os Espíritos não são percebidos com forma.
Chama a nossa atenção, nessa resposta, entretanto, que os Espíritos parecem estar falando do Princípio Inteligente, e não do Espírito, entidade formada por esse Princípio somado ao Perispírito. afinal, o Espírito tem forma, uma vez que o Princípio Inteligente imprime forma ao Perispírito. É, portanto, com forma que médiuns de todas as raças e culturas têm percebido Espíritos desde as mais remotas eras.
Desse modo, os Espíritos que ditaram a Codificação parece terem aproveitado essa questão para dizer que o Princípio Inteligente tem uma forma que foge aos nossos sentidos, sendo aceitável que a imaginemos como uma chama.
Nossa interpretação encontra confirmação no Item 55 do Capítulo I de O Livro dos Médiuns, onde Kardec afirma:
Hão dito que o Espírito é uma chama, uma centelha. Isto se deve entender com relação ao Espírito propriamente dito, como princípio intelectual e moral, a que se não poderia atribuir forma determinada. Mas, qualquer que seja o grau em que se encontre, o Espírito está sempre revestido de um envoltório, ou perispírito, cuja natureza se eteriza, à medida que ele se depura e eleva na hierarquia espiritual. De sorte que, para nós, a idéia de forma é inseparável da de Espírito e não concebemos uma sem a outra. O perispírito faz, portanto, parte integrante do Espírito, como o corpo o faz do homem....
A Cor dos Espíritos
Voltando a O Livro dos Espíritos, verificamos que, tendo os Espíritos respondido quanto à forma, Kardec fez um complemento à questão preliminar, querendo saber a cor dos Espíritos. A essa segunda pergunta, a resposta foi a seguinte:
“Têm uma coloração que, para vós, vai do colorido escuro e opaco a uma cor brilhante, qual a do rubi, conforme o Espírito é mais ou menos puro”.
Se prestarmos atenção, veremos que essa resposta tem uma característica estranha. Kardec perguntou, de forma inequívoca, pela cor da “chama ou centelha”. Os Espíritos, no entanto, nada disseram de cor. O que é uma cor “escura e opaca” ou uma cor “brilhante, qual a do rubi?” Note-se que a resposta nada fala da cor em si, destacando apenas o brilho. Nos ocorreu ter havido um equivoco de tradução, o que nos fez recorrer ao original em Francês:
"Pour vous, elle varie du sombre à l'éclat du rubis, selon que l'Esprit est plus ou moins pur”. (Para vós, ela varia do sombrio ao brilho intenso do rubi, conforme seja o Espírito mais ou menos puro).
Como vemos, no original, a palavra cor (“couleur”) sequer foi usada na resposta. De fato, tudo o que se obtém da resposta é que os Espíritos mais atrasados são vistos como uma sombra escura e os mais adiantados com uma chama intensamente brilhante deles emanando.
Essa resposta e sua interpretação coincidem com o que nos passam a diversas tradições religiosas, que reportam que os anjos e santos ofuscam nossos olhos com seu intenso brilho, ao passo que os chamados demônios são ditos “espíritos das trevas”, devido à sua aparência sombria.
É interessante notar que a resposta dos Espíritos tanto é válida se estivermos falando do Princípio Inteligente quanto se estivermos falando do Espírito, isto é do Princípio Inteligente acoplado ao perispírito.
Teriam os Espíritos se furtado a falar da cor por ser ela de somenos importância ou teria sido por serem as cores em questão além de nossa capacidade visual? Por alguma razão não o fizeram e por alguma razão Kardec não os redargüiu a respeito, dando-se por satisfeito em confirmar o brilho.
Uma Aventura pela Questão da Freqüência
Apesar de nada terem dito os Espíritos a Kardec sobre a cor em si, a sub-questão “a” nos oferece uma boa oportunidade para estudarmos um pouco a questão da freqüência emitida pelos Espíritos, como é percebida pelos médiuns videntes, como nos reporta a tradição e como é entendida pela Ciência humana.
Sabemos, das noções básicas da Física, que, no espectro da luz visível, a cor vermelha corresponde às mais baixas freqüências percebidas, correspondendo o violeta às freqüências mais elevadas que o olho humano consegue ver.
A tradição, que nada mais é que o acúmulo dos testemunhos dos médiuns videntes através dos milênios, parece confirmar que a noção que obtemos da Física pode ser utilizada. Todas as tradições religiosas sempre associaram a cor vermelha aos demônios e Espíritos perturbadores enquanto a cor branca sempre foi associada aos anjos e demais Espíritos elevados.
Alguém poderia levantar a questão: “É verdade que os demônios são representados tradicionalmente na cor vermelha, mas as representações dos anjos e demais Espíritos elevados utilizam, predominantemente, a cor branca ou, se muito, anil e não à cor violeta”.
A própria Física nos ajuda a entender o que ocorre. O branco visível nada mais é que a mistura equilibrada das cores básicas ou de todas as cores. Ora, os Espíritos mais adiantados necessitam adequar sua vibração à dos médiuns videntes que os enxergam com sua visão sutil. Por outro lado, o seu adiantamento moral deve produzir uma determinada vibração elevada mesmo quando em contato com Espíritos menos evoluídos que requerem deles uma vibração mais baixa.
Isso sugere, a nosso ver, que eles tenham capacidade de vibrar em mais de uma freqüência simultaneamente. Se supusermos que os Espíritos mais evoluídos podem vibrar em diversas freqüências simultaneamente, quando desejam entrar em contato com diversos Espíritos em estágios diferentes de evolução ao mesmo tempo, o resultado visual dessa simultaneidade de emissão de freqüência tenderá ao branco, como percebido pelos videntes.
Agora que já nos aventuramos pelos domínios da cor, vamos utilizar o relacionamento entre as freqüências de vibração e a temperatura e nosso conhecimento sobre o que nos diz a tradição para ver se chegamos a uma conclusão semelhante.
Ao longo dos séculos, a proximidade de Espíritos perturbados ou perversos sempre foi percebida como uma sensação de frio pelos médiuns. A temperatura fria corresponde à baixa freqüência de vibração (o mesmo que a cor vermelha). Os Espíritos evoluídos, por outro lado, sempre foram percebidos como tendo temperatura agradável e não como quentes, o que corresponderia a uma alta freqüência de vibração. Ora, a temperatura agradável significa exatamente o cuidado que o Espírito evoluído tem em tornar igualmente agradável a sua aproximação, guardado, pois, um paralelo com a cor branca.

Quanto à Criança Cristal...Qual a cor do cristal? Qual o brilho do cristal?

Sábio foi Kardec ao criar novos termos à novos conceitos.

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