terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Bíblia e Evangelho

 

A Bíblia (cujo nome quer dizer simplesmente: O Livro) é na verdade uma biblioteca, reunindo os livros diversos da religião hebraica. Representa a codificação da primeira revelação do ciclo do Cristianismo. Livros escritos por vários autores estão nela colecionados, em número de 42. Foram todos escritos em hebraico e aramaico e traduzidos mais tarde para o latim, por São Jerônimo, na conhecida Vulgata Latina, no século quinto da nossa era. As igrejas católicas e protestantes reuniram a esse livro os Evangelhos de Jesus, dando a estes o nome geral de Novo Testamento.

O Evangelho, como se costuma designar o Novo Testamento, não pertence de fato à Bíblia. É outro livro, escrito muito mais tarde, com a reunião dos vários escritos sobre Jesus e seus ensinos. O Evangelho é a codificação da segunda revelação cristã. Traz uma nova mensagem, substituindo o deus-guerreiro da Bíblia pelo deus-amor do Sermão da Montanha. No Espiritismo não devemos confundir esses dois livros, mas devemos reconhecer a linha histórica e profética, a linhagem espiritual que os liga. São, portanto, dois livros distintos.

O Espiritismo

A antiga religião hebraica é geralmente conhecida como Mosaísmo, porque surgiu e se desenvolveu com Moisés. A nova religião dos Evangelhos é designada como Cristianismo, porque vem do ensino do Cristo. Mas, assim como nas páginas da Bíblia está anunciado o advento do Cristo, também nas páginas do Evangelho está anunciado o advento do Espírito de Verdade. Esse advento se deu no século passado, com a terceira e última revelação cristã, chamada revelação espírita. Cinco novos livros aparecem, então, escritos por Allan Kardec, mas ditados, inspirados e orientados pelo Espírito de Verdade e outros Espíritos Superiores. Os cinco livros fundamentais do Espiritismo, que têm como base O Livro dos Espíritos, representam a codificação da terceira revelação. Essa revelação se chama Espiritismo porque foi dada pelos Espíritos. Sua finalidade é esclarecer os ensinos anteriores, de acordo com a mentalidade moderna, já suficientemente arejada e evoluída para entender as alegorias e símbolos contidos na Bíblia e no Evangelho. Mas enganam-se os que pensam que a Codificação do Espiritismo contraria ou reforma o Evangelho.


Sentido histórico da Bíblia
e a sua natureza profética

Qual a posição do Espiritismo diante do problema bíblico? Os recentes debates na televisão entre espíritas, pastores protestantes e sacerdotes católicos deram motivo a algumas incompreensões, das quais se aproveitaram adversários pouco escrupulosos da Doutrina Espírita, para lhe desfecharem novos e injustos ataques. Vamos procurar esclarecer, por estas colunas, a posição espírita, como já havíamos prometido.

Kardec define essa posição, desde O Livro dos Espíritos, como a de estudo e esclarecimento do texto, à luz da História e na perspectiva da evolução espiritual da Humanidade. No capítulo III desse livro, final do item 59, depois de analisar as contradições entre a Bíblia e as Ciências, no tocante à criação do mundo, ele declara: "Devemos concluir que a Bíblia é um erro? Não; mas que os homens se enganaram na sua interpretação".

Essas palavras de Kardec, sustentadas através de toda a Codificação, esclarecem a posição espírita. Devemos reconhecer na Bíblia a sua natureza profética (ou seja: mediúnica), encerrando a I Revelação, no ciclo histórico das revelações cristãs. Esse ciclo começa com Moisés (I Revelação), define-se com Jesus (II Revelação) e encerra-se com o Espiritismo (III Revelação). Os leitores encontrarão explicações detalhadas a respeito em O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, que é um manual de moral evangélica. O conceito espírita de Revelação, porém, não é o mesmo das religiões em geral. Revelar é ensinar, e isso tanto pode ser feito pelos Espíritos (revelação divina) quanto pelos homens (revelação humana), mas não por Deus "em pessoa", porque Deus age através de suas leis e dos Espíritos. A revelação bíblica, portanto, não pode ser chamada de "palavra de Deus". Ela é tão-somente a palavra dos Espíritos-Reveladores, e essa palavra é sempre adequada ao tempo em que foi proferida. Isto é confirmado pela própria Bíblia, como veremos no decorrer deste estudo.

A expressão "a palavra de Deus" é de origem judaica. Foi naturalmente herdada pelo Cristianismo, que a empregou para o mesmo fim dos judeus: dar autoridade à Igreja. A Bíblia, considerada "a palavra de Deus", reveste-se de um poder mágico: a sua simples leitura, ou simplesmente a audiência dessa leitura, pode espantar o Demônio de uma pessoa e convertê-la a Deus. Claro que o Espiritismo não aceita nem prega essa velha crendice, mas não a condena. A cada um, segundo suas convicções, desde que haja boa intenção.

 

Do livro Visão Espírita da Bíblia de J. Herculano Pires

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