sábado, 12 de dezembro de 2009

EM CASA NOUTRO PLANETA

Hoje é sábado, meu sinal de internet continua horrível como sempre, resolvi me dedicar aos livros, porém não à leitura mas a organização. Arrumando uns, ajeitando outros, registrando novos no cadastro da minha pequena biblioteca pessoal e cadastrando outros no site www.trocandolivros.com.br , quando folhei um livro que um amigo pediu para cadastrar no site: O Paraíso é uma Questão Pessoal.

Do mesmo autor de Fernão Capelo Gaivota, fiquei relembrando cenas do filme maravilhoso e que fornece lindos ensinamentos espíritas, lembrei que meu amigo já havia dito que este livro era meu e o tinha emprestado e eu dizia que não, isto ocorreu umas quatro vezes e esta lembrança me fez sorrir com carinho.

O livro é composto por pequenas crônicas e o título de uma me chamou a atenção: Em Casa Noutro Planeta. Sendo este, assunto de minhas pesquisas atuais, resolvi ler e ao final sorri de certa forma agradecida e resolvi partilhá-lo com meus amigos. Vou colocar a crônica na íntegra e em azul abaixo, boa leitura.

Em Casa Noutro Planeta (1969)

“Eu tinha acabado de subir no ClipWing e de praticar uma pequena seqüência: loop seguido de tonneau, seguido de parafuso, seguido de immelmann, só por prazer. Estava satisfeito, nesse dia, de ter conseguido fazer um bom immelmann. Não é fácil de fazer mas, após algum tempo, a gente tem prazer em conseguir fazer uma manobra tão espetacular. Antigamente, as pessoas que viam os meus immelmanns, diziam:- Puxa, que horrível tonneau! – Tinha que explicar que a Força Aérea não ensinava a fazer nenhuma manobra de gravidade negativa, de modo que eu tive de aprende-las por minha conta e, como a minha capacidade de aprender diminui sem um instrutor de má catadura sentado atrás de mim, até que é uma grande coisa pôr o avião outra vez de barriga para baixo, quando é chegada a hora de aterrisar.

Terminei aquela seqüência bastante razoável com um regular immelmann, voei mais um pouco, olhando para fora da cabine para as pessoas trabalhando, na escola, ou dirigindo automóveis de folha de lata, ao longo de estradas atravancadas. Depois, a aterrissagem e num momento o motor estava tão quieto como cinquênta minutos antes; um término normal para um vôo normal. Saí do avião, trouxe o manche para trás, amarrei os cabos dos montantes e da cauda, travei o leme de direção.

Mas aí, bem no meio de toda essa normalidade cotidiana, tive, de repente, a mais estranha das sensações. O avião, a luz do sol, a grama, os hangares, as árvores verdes, o leme nas minhas mãos, o chão sob meus pés... tudo me era estranho, distante.

Esse não é o meu planeta. Esta não é a minha terra.

Foi um dos momentos mais horríveis da minha vida, o que aconteceu quando as minhas mãos largaram o leme de direção.

Este mundo parece estranho porque ele é estranho. Estou aqui há pouco tempo apenas. Minhas recordações secretas são de outros tempos e de outros mundos.

Que estranha maneira de pensar, disse comigo mesmo, vamos sair dessa, meu filho. Mas quem diz que eu conseguia? Na verdade, recordava pedaços dessa sensação, fragmentos dela após cada vôo que eu fazia - a estranha sensação de voltar para a terra, a convicção profunda de que este planeta, para mim, pode significar férias, escola, aprendizado ou teste, mas nunca a minha terra.

Venho de outro lugar e para ele voltarei um dia.

Era tão absorvente, essa sensação, que me esqueci de verificar os pneus, antes de partir e praguejei contra mim mesmo, da próxima vez em que voei. O imbecil que se esquece de verificar os seus pneus, que é que pode esperar dele?

Mas essa mesma sensação me tem perseguido repetidas vezes desde aquele vôo no Cub. Não sei a que atribuí-la nem como explicá-la, exceto que talvez seja verdade. E, se for verdade, se estamos todos passando por este planeta para adquirir experiência ou aprendizado, que significa isso?

Se for verdade, provavelmente significa que não devemos nos preocupar. provavelmente significa que eu posso pegar nas coisas com que tão solenemente me preocupo, nesta vida, e olhar para elas como se fosse um visitante do planeta, dizendo, ora eu não tenho nada a ver com elas. Para mim, isso faz diferença.

Não achei que fosse o único visitante a quem tivesse ocorrido, leme na mão ou no meio de um immelmann, a mesma sensação. Sabia que todo aquele que voa pode ter sentido, de vez em quando, a mesma estranheza num mundo que, sob todos os pontos de vista da lógica, deveria ser familiar como um lar.

E estava certo. Por que um dia, após um vôo em formação sobre nuvens de verão, uma beleza de vista, um amigo me disse quase a mesma coisa.

-Toda essa conversa de se lançar no espaço - há ocasiões, como agora, em que eu sinto que estou voltando. Estranho, sabe, como se eu fosse um venusiano ou algo parecido. Entende o que quero dizer? Alguma vez lhe aconteceu? Já pensou nisso?

-Talvez. Ás vezes. Sim, já pensei nisso. - Quer dizer que eu não estou louco, pensei. Não sou só eu.

Cada vez acontece mais comigo e devo confessar que não é desagradável ter raízes noutro tempo.

Gostaria de saber como é voar, na minha terra.”

“este planeta, para mim, pode significar férias, escola, aprendizado ou teste, mas nunca a minha terra” esta frase me chamou muito a atenção pois ela demosntra que nós nos consideramos muito mais humanos que espíritos, acreditamos profundamente que somos terráqueos, quando na verdade somos universais, porque somos espíritos.

ClaudiaC.

4 comentários:

Jorge disse...

Somos filhos de Deus.
Então não temos um lugar fixo dentro do Universo. Fazemos parte sem ser de lugar algum.
Muito legal este teu post.
Valeu!!!

Abraços,
Jorge

Kelly Kobor Dias disse...

Muito legal poder acompanhar um pedacinho da sua leitura. Obrigada por partilhar, beijos

Norma Villares disse...

Olá,
Gostei de seu blog, estou acompanhando-o. Posso?

Feliz Natal!
A melhor mensagem de Natal é aquela que sai do silêncio de nossos
corações e aquece com ternura os corações daqueles que acompanham
nossa caminhada pela vida.
Ano Novo de muitas realizações !
Que a presença do CRISTO ilumine sua vida por todo ano de 2010.
Votos sinceros para você e sua família.
Abraços sublimes

ClaudiaC. disse...

Oi Norma

Será um prazer que você o acompanhe e espero deixá-lo cada vez melhor.

Tenha um Bom Natal e um Ano novo proveitoso,

Bjs
Claudia

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