Revista Espírita, abril de 1868, Allan Kardec
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Tendo sido lidos, na Sociedade de Paris, o fragmentos narrados acima, nosso antigo colega, Jobard, veio espontaneamente dar, sobre este assunto, a comunicação seguinte, por um médium em sonambulismo espiritual:
( Sociedade de Paris, 28 de fevereiro. Méd. Sr. Morin.)
Eu passava, quando o eco me trouxe a vibração de uma imensa gargalhada. Escutei com interesse, e, tendo reconhecido o barulho do riso dos encarnados e dos desencarnados, disse a mim mesmo: Sem dúvida, a coisa é interessante; vamos ver!...
Eu não acreditava, senhores, ter o prazer de vir passara noite junto de vós. No entanto, com isto estou sempre feliz, crede-o bem, porque sei toda a simpatia que conservastes para vosso antigo colega.
Aproximei-me, pois, e todos os barulhos da Terra me chegaram mais distintos: O fim do mundo! gritava-se; o fim do mundo!...Ah! meu Deus, disse a mim mesmo, se for o fim do mundo, em que vão eles se tomarem?... A voz de vosso presidente e meu amigo, tendo vindo até mim, o ouvi que lia algumas passagens de uma brochura onde se anuncia o fim do mundo como muito próximo. O assunto me interessou; escutei atentamente, e, depois de ter maduramente refletido, venho, como o autor da brochura, vos dizer Sim, senhores, o fim do mundo está próximo!... Oh! não vos assusteis, senhoras; porque é preciso ele estar bem perto para tocá-lo, e quando o tocardes, vós o vereis.
À espera disto, eu vou, se o permitirdes, vos dar a minha apreciação sobre esta palavra, espantalho dos cérebros fracos, e também dos Espíritos fracos; porque, sabei-o, se a apreensão do fim do mundo terrifica os seres pusilânimes de vosso mundo, ela fere igualmente de terror os seres atrasados da erraticidade. Todos aqueles que não são desmaterializados, quer dizer, que, embora Espíritos, vivem mais materialmente, se amedrontam à idéia do fim do mundo, porque compreendem, por esta palavra, a destruição da matéria. Não vos admireis, pois, que esta idéia coloque em emoção certos Espíritos que não saberiam em que se tornar se a Terra não existisse mais; porque a
Terra é ainda o seu mundo, seu ponto de apoio.
Por mim, disse a mim mesmo: Sim, o fim do mundo está próximo; ele está ali, eu o vejo, eu o toco;... ele está próximo para aqueles que, com seu desconhecimento, trabalham para precipitar-lhe achegada!... Sim, o fim do mundo está próximo;... Mas de que mundo é o fim?
Será o fim do mundo da superstição, do despotismo dos abusos mantidos pela ignorância, da malevolência e da hipocrisia; será o fim do mundo egoísta e orgulhoso, do pauperismo, de tudo o que é vil e rebaixa o homem; em uma palavra, de todos os sentimentos baixos e cúpidos que são o triste apanágio de vosso mundo.
Esse fim do mundo, essa grande catástrofe que todas as religiões concordam em prever, é o que elas entendem? Não é preciso ver aí, ao contrário, o cumprimento dos altos destinos da Humanidade? Se refletíssemos em tudo o que se passa ao nosso redor, esses sinais precursores não são o sinal do começo de um outro mundo, eu quero dizer de um outro mundo moral, antes do que o da destruição do mundo material?
Sim, senhores, um período de depuração terrestre termina neste momento; um outro vai começar... Tudo concorre para o fim do velho mundo, e aqueles que se esforçam por sustentá-lo trabalham energicamente, sem o querer, para sua destruição. Sim, o fim do mundo está próximo para eles; eles o pressentem e com isto se assustam, crede-o bem, mais do que do fim do mundo terrestre, porque é o fim de sua dominação, de sua preponderância, à qual se prendem mais do que a qualquer outra coisa; e isso será, a seu respeito, não vingança de Deus, porque Deus não se vinga, mas ajusta recompensa de seus atos.
Os Espíritos são, como vós, os filhos de suas obras; se são bons, é porque trabalharam para o futuro; se são maus, não é que não tenham trabalhado para o futuro, é porque não trabalharam para se tomarem bons.
Amigos, o fim do mundo está próximo, e eu vos convido vivamente a tomarem boa nota desta previsão; ele está tanto mais próximo, quanto já se trabalha para reconstruí-lo.
A sábia previdência Daquele a quem nada escapa quer que tudo se reconstrua antes que tudo seja destruído; e quando o novo edifício estiver coroado, quando o cume estiver coberto, será então que se desmoronará o antigo; ele cairá por si mesmo; de sorte que, entre o velho mundo e o novo, não haverá solução de continuidade.
É assim que é preciso entender o fim do mundo, que tantos sinais precursores pressagiam. E quais serão os operários mais poderosos para essa grande transformação? Sois vós, senhoras; sois vós, senhoritas, com a ajuda da dupla alavanca da instrução e do Espiritismo. Na casa da mulher em que o Espiritismo penetrou, há mais do que uma mulher, há uma operária espiritual; nesse estado, tudo trabalhando por ela, a mulher trabalha ainda mais do que o homem na edificação do monumento; porque, quando ela conhecer todos os recursos do Espiritismo, e deles souber servir-se, a maior parte da obra será feita por ela. Amamentando o corpo de seu filho, ela poderá também amamentar seu espírito; e quem é melhor ferreiro do que o filho de um ferreiro, aprendiz de seu pai? A criança sugará, assim, em crescendo, o leite da espiritualidade, e quando tiverdes os Espíritas, filhos de Espíritas e pais de Espíritas, o fim do mundo, tal como o compreendemos, não terá se realizado? Admirai-vos, pois, depois disto, que o Espiritismo seja um espantalho para tudo o que se prende ao velho mundo, e da obstinação que se põe para abafá-lo em seu berço!
JOBARD.
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