terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O Caminho Reto

A primeira condição para se conservar a alma livre, a inteligência sã, a razão lúcida é a de ser sóbrio e casto. Os excessos de alimentação perturbam-nos o organismo e as faculdades; a embriaguez faz-nos perder toda a dignidade e toda a moderação. O seu uso continuo produz uma série de moléstias, de enfermidades, que acarre­tam uma velhice miserável.



Dar ao corpo o que lhe é necessário, a fim de torná-lo servidor útil e não tirano, tal é a regra do homem cri­terioso. Reduzir a soma das necessidades materiais, com­primir os sentidos, domar os apetites vis é libertar-se do jugo das forças Inferiores, é preparar a emancipação do Espírito. Ter poucas necessidades é também uma das formas da riqueza.


A sobriedade e a continência caminham juntas. Os prazeres da carne enfraquecem-nos, enervam-nos, des­viam-nos da sabedoria. A volúpia é como um abismo onde o homem vê soçobrar todas as suas qualidades morais. Longe de nos satisfazer, atiça os nossos desejos. Desde que a deixamos penetrar em nosso seio, ela invade-nos, absorve-nos e, como uma vaga, extingue tudo quanto há de bom e generoso em nós. Modesta visitante ao prin­cípio, acaba por dominar-nos, por se apossar de nós completamente.



Evitai os prazeres corruptores em que a juventude se estiola, em que a vida se desseca e altera. Escolhei em momento oportuno uma companheira e sede-lhe fiel. Constituí uma família. A família é o estado natural de uma existência honesta e regular. O amor da esposa, a afeição dos filhos, a sã atmosfera do lar são preservati­vos soberanos contra as paixões. No meio dessas criaturas que nos são caras e vêem em nós seu principal arrimo, o sentimento de nossas responsabilidades se engrandece; nossa dignidade e nossa circunspeção acentuam-se; com­preendemos melhor os nossos deveres e, nas alegrias que essa vida concede-nos, colhemos as forças que nos tornam suave o seu cumprimento. Como ousar cometer atos que fariam envergonhar-nos sob o olhar da esposa e dos fi­lhos? Aprender a dirigir os outros é aprender a dirigir-se a si próprio, a tornar-se prudente e criterioso, a afastar tudo o que pode manchar-nos a existência.



É condenável o viver insulado. Dar, porém, nossa vida aos outros, sentirmo-nos reviver em criaturas de que sou­bemos fazer pessoas úteis, servidores zelosos para a causa do bem e da verdade, morrermos depois de deixar cimen­tado um sentimento profundo do dever, um conhecimento amplo dos destinos é uma nobre tarefa.



Se há uma exceção a essa regra, esta será em favor daqueles que, acima da familia, colocam a Humanidade e que, para melhor servi-la, para executar em seu proveito alguma missão maior ainda, quiseram afrontar sozinhos os perigos da vida, galgar solitários a vereda árdua, con­sagrar todos os seus instantes, todas as suas faculdades, toda a sua alma a uma causa que muitos ignoram, mas que eles jamais perderam de vista.



A sobriedade, a continência, a luta contra as seduções dos sentidos não são, como pretendem os mundanos, uma infração às leis morais, um amesquinhamento da vida; ao contrário, elas despertam em quem as observa e executa uma percepção profunda das leis superiores, uma intuição precisa do futuro. O voluptuoso, separado pela morte de tudo o que amava, consome-se em vãos desejos. Fre­qüenta as casas de deboche, busca os lugares que lhe recordam o modo de vida na Terra e, assim, prende-se cada vez mais a cadeias materiais, afasta-se da fonte dos puros gozos e vota-se à bestialidade, às trevas.



Atirar-se às volúpias carnais é privar-se por muito tempo da paz que usufruem os Espíritos elevados. Essa paz somente pode ser adquirida pela pureza. Não se observa isso desde a vida presente? As nossas paixões e os nossos desejos produzem imagens, fantasmas que nos perseguem até no sono e perturbam as nossas reflexões. Mas, longe dos prazeres enganosos, o Espírito bom con­centra-se, retempera-se e abre-se às sensações delicadas. Os seus pensamentos elevam-se ao infinito. Desligado com antecedência das concupiscências ínfimas, abandona sem pesar o seu corpo exausto.



Meditemos muitas vezes e ponhamos em prática o provérbio oriental: Sê puro para seres feliz e para seres forte!



Léon Denis

do livro Depois da Morte


Um comentário:

Claudia C. disse...

Jorge,
Desculpe eu arrumei o post mas esqueci que havia seu comentário, por isso o reponho abaixo.
Bjs

"Claudia,

Muito bom este texto.
Apenas eu acredito que não devemos nos fixar na pureza, e sim, vivenciar cada momento, isto é, curtir o aminho até se chegar à pureza pois é o caminho que nos enriquece o Espírito.

UM beijo,
Jorge" (Uman)

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