segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Centro Espírita - uma revisão estrutural I

EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO
O problema de definição conceitual e estrutural dos centros espíritas é estudado neste capítulo. Se olhamos para o conjunto dos centros, identificaremos grande indefinição e heterogeneidade, dificultando uma definição precisa. Discuto essa heterogeneidade e algumas características problemáticas da estrutura atual dos centros. Proponho depois um modelo conceitual.
Para entender o que são os centros hoje é fundamental que se reveja a sua história. Por isso inicio por um levantamento de aspectos históricos relevantes. São dados que esclarecem as origens de diversas características atuais dos centros espíritas. Não há aqui espaço suficiente para um detalhamento, mas o tema pode ser aprofundado através das referências indicadas.
1.1. ASPECTOS HISTÓRICOS
Para entendermos a origem dos grupos espíritas temos que buscar os grupos que os antecederam, surgidos antes do trabalho de elaboração do Espiritismo, realizado por Allan KARDEC na França. Como ignorar os grupos de magnetistas e magnetizadores, com destaque para os seguidores de MESMER, que foram muitos no final do século XVIII e início do XIX na França?7 Como deixar de considerar os diversos grupos de adeptos do "modern spiritualism" que surgiram nos Estados Unidos a partir dos fenômenos ocorridos com as irmãs FOX?8 E os grupos que passaram a realizar reuniões de mesas girantes na Europa, em meados do século XIX, que na França acabaram por chamar a atenção de KARDEC?9 Muitos médiuns, magnetizadores e mágicos polarizaram a criação de grupos mais ou menos efêmeros, mais ou menos sérios, em torno de si.
Esses agrupamentos são os antecessores dos grupos espíritas criados no período pós-KARDEC e dos grupos espíritas atuais. É com KARDEC, no entanto, a partir de 1855, que o Espiritismo ganha feição doutrinária.10 Ele lançou O livro dos espíritos em 1857, com as bases da nova doutrina11 e fundou, em 1858, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (SPEE), cujos estatutos foram publicados posteriormente em O livro dos médiuns para servir de modelo aos centros espíritas que nasciam por toda parte.12 A SPEE, sob a coordenação do próprio KARDEC, firmou uma metodologia de estudo e pesquisa da mediunidade, documentada sobretudo através da Revista espírita.13
FÁVARO, DEL CHIARO e PALAZZI fazem um estudo do "perfil psicossocial do freqüentador dos centros espíritas do tempo de KARDEC" e concluem: "Chegamos à conclusão de que os fenômenos espíritas foram estudados num primeiro momento por homens aristocratas da nobreza européia. Não eram "João Ninguém" e também não eram cientistas, pois viam no fenômeno mais um passatempo do que ciência. Isto não invalidou suas pesquisas, pois na verdade elas incomodaram os cientistas, que viam naqueles fenômenos a ignorância, o misticismo, a superstição do povo ou o cambalacho de alguns espertalhões."
Os autores comparam esses dados com a realidade de nossos centros, afirmando que na França os freqüentadores eram nobres, intelectuais, pesquisadores da alta burguesia e classe média à procura de comprovações científicas da imortalidade da alma.
"Não era o sofrimento, a angústia existencial, o medo do futuro, a doença e a pobreza. Não era a consolação ou a cura da loucura, da obsessão."
No Brasil esses motivos se tornaram os principais para a criação e manutenção de centros espíritas. O trabalho de KARDEC influenciou fortemente a estruturação dos grupos franceses e, por conseqüência, teve grande impacto sobre os primeiros agrupamentos brasileiros. Ubiratan MACHADO16 relata que na Bahia "a repressão do clero aguçou fortemente o instinto de luta dos pioneiros. Em meados da década de 1860, Salvador conheceu uma explosão espírita de que não há paralelo no Brasil. As obras de KARDEC, lidas em francês, eram discutidas apaixonadamente nas classes mais cultas."
Segundo Ubiratan MACHADO, o primeiro centro kardecista surgiu na Bahia:
"Oficialmente, a eclosão do Espiritismo brasileiro se daria neste ano (1865) quando, em Salvador, foi fundado o Grupo Familiar de Espiritismo, o primeiro centro Kardecista de conhecimento público, do país. Sob a direção do Dr. Luís Olímpio Teles de Menezes, o maior apóstolo do Espiritismo em seus inícios no Brasil, realizou-se ali, às 22,30 horas do dia 17 de setembro de 1865, a primeira sessão registrada nos anais da doutrina espírita, no Brasil. Uma hora após o início dos trabalhos, os membros recebiam a primeira mensagem psicografada de nossa terra e divulgada de forma oficial. Estava assinada por "Anjo de Deus"
Em Salvador e no Rio de Janeiro os grupos foram se multiplicando. Antonio Cesar Perri de CARVALHO cita os seguintes grupos na Capital: Grupo Confucius (criado em 1873), Sociedade Espírita Fraternidade (1880), Sociedade de Estudos Espíritas Deus, Cristo e Caridade (1876) e União Espírita do Brasil. "Em 1884 era fundada a Federação Espírita Brasileira"18 (FEB). A FEB esteve, desde a sua fundação, no centro das lutas pela hegemonia do movimento espírita brasileiro. Os grupos espíritas brasileiros foram aos poucos adquirindo características próprias. Surgiu e cresceu o "sincretismo afro-espírita-católico":
"Ao lado do kardecismo, desenvolveu-se um vigoroso Espiritismo popular. Em alguns momentos a vitalidade deste chegou a parecer uma ameaça à sobrevivência da doutrina de KARDEC em sua pureza. A ameaça, porém, era apenas aparente. O caminho dos vários Espiritismos, apesar dos atalhos de ligação e das influências recíprocas, sempre foram distintos."
O caminho dos centros espíritas após os anos 30 foi estudado por Carlos Roberto de MESSIAS:
"Dos círculos experimentais franceses aos grupos quase esotéricos do Império, os centros espíritas pós trinta se transformaram mais nitidamente em templos, prontossocorros e casas de caridade em auxílio de um mundo esquizo que vai deixando de ser rural." As características identificadas historicamente pelos autores citados tornaram-se majoritárias, com o tempo, no crescente número de centros espíritas brasileiros. Uma análise dessas características na atualidade nos leva à identificação de confrontos entre muitas delas e o próprio Espiritismo, como desenvolvo a seguir.
do livro Centro Espírita - uma revisão estrutural, de Mauro de Mesquita Spinola

3 comentários:

Ivomar Costa disse...

Vejo com muita alegria o surgimento de um livro que aborde este tema. Não o li ainda, mas pretendo fazê-lo assim que possivel. Sou Adminsitrador por formação e venho estudando o Centro Espírita como organização - estruturas e processos - há 17 anos. Ultimamente tenho contribuido com um centro para modificar as suas estruturas e processos. Nas minhas pesquisas sempre me deparei com a falta de informações históricas que possibilitassem melhores conclusões sobre a nossa realidade. Com este livro espero que algumas lacunas sejam cobertas e possamos avançar neste assunto, que infelizmente ainda encontra fortes resitências. Sem dúvida, ele servirá para esclarecer o movimento.

Claudia C. disse...

Ivomar

Fico sempre feliz em ajudar, recebi este livro de um querido amigo, devida a um debate sobre a metodologia aplicada aos centros, e gostei do que li. Caso deseje que o envie por email é só me avisar.
Acho muito importante a reflexão sobre este assunto, sou nova no estudo da doutrina mas tenho tentado, através do estudo e da pesquisa, compreender o que é e qual o objetivo da Casa Espírita.
Espero que o livro possa ajudar o amigo em suas pesquisas.
Bjs
Claudia

Unknown disse...

Boa tarde!!!
Mas que lindo o seu blog. Muito interessante.
Eu fiz um pra mim tbm....
ker dar uma olhadinha?
www.espiritasdesantos.blogspot.com

Me ajude a divulgar...
estarei sempre por aqui td bem??
Fique com Deus..... beijos e abraços iluminados em seu coração

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