segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

AMOR & ÓDIO

José Renato M. de Almeida


São dois sentimentos básicos presentes na vida do ser humano. Parecem conflitantes mas são complementares, como os pólos de um imã: o Amor atrai, o Ódio repele. Não dá para viver só com um deles, assim como não se consegue obter um imã de uma única polaridade, que apenas atraia ou apenas repila. Quando um imã é partido imediatamente aparecem os mesmos dois pólos no pedaço menor. Essa unidade, aparentemente contrastante, também é encontrada em todas as coisas. Heráclito (540-470 a.C.) – filósofo grego da cidade de Éfeso – estabeleceu, no seus concisos escritos “Sobre a Natureza”, a existência de uma lei universal e fixa (o Logos) regedora de todos os acontecimentos particulares e fundamento da harmonia no Universo, harmonia feita de tensões, “como a do arco e a da lira”.(1)
O imaginário romântico brasileiro me parece ter dificuldade para perceber que o caos (desordem) e o cosmo (ordem) convivem e se complementam no Universo.

Entretanto os sentimentos pessoais de atração e de repulsão não se resume aos pólos positivo e negativo como ocorre no imã. Em nós, seres pensantes dito racionais, esses sentimentos são seletivos. Cada um de nós sente-se atraído e sente repulsão por coisas diversas de forma individual. Pode até coincidir em alguns casos, mas dificilmente isso ocorrerá para tudo. São essas forças que nos atraem ao que nos parece bom e nos faz repudiar o que nos parece prejudicial. A decisão é nossa, somos “donos do sim e do não”, como diz Caetano em sua composição “Luz do Sol”. Pelo menos, deveríamos ser. O sambista no passado já afirmava que essas coisas não se aprende na escola... Nem é ensinado. Pouquíssimas escolas formam o indivíduo no conhecimento emocional de si mesmo e dos outros.

Quando dois seres se amam, se atraem e tentam aproximar-se, usando a metáfora do imã, consideramos que há, além das facilidades, diversos tipos de dificuldade que requerem cuidados sutis no modo de conviver com essas forças opostas. Quando dois seres colocam o seu amor a frente de tudo... Dois pólos iguais se repelem. Isso é curioso. Se juntarem o amor e o ódio fixam-se na prisão desgastante de uma relação de dependência hostil. Num relacionamento desse tipo, qualquer tentativa de separar ou se ajustar requer grande força e cuidado, para não provocar um novo choque e até mesmo quebrar o imã, o amor próprio da pessoa que “finda por ferir com a mão a coisa mais querida, a glória, da vida”, como canta Caetano.(2)

Mas como então se aproximar e ficar juntos? A melhor forma de acomodar esses sentimentos, já exortava Paulo, o Apóstolo, é ajustá-los pacientemente um ao outro, interdependente e confiante, numa compreensão de sentimentos. Experimento e reflito sobre isso usando barrinhas de imã dos enfeites de geladeira. Esse ajuste pode ser confortável e estável. Pode permitir amplos movimentos, deslocamentos e reacomodações num simples deslizar de imãs ou de pessoas – um no outro. Huumm! Melhor que isso só no Paraíso!


Referências:
1. Os pré-socráticos – Coleção Os pensadores – Abril Cultural – pág. 81
2. Luz do Sol, composição de Caetano Veloso.

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