quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Um exército salvador?Seres azuis, privilegiados, escolhidos, poderão mudar o planeta? Onde estão eles?

O ser humano adora o mágico; no tempo e no espaço criou histórias, mitos e as qualidades
e defeitos do indivíduo da Terra aparecem em mensagens fabulosas. Jung explica que temos em nosso psiquismo vários arquétipos, entre os quais o sombra e o herói surgem até nas fábulas. Não
compreendemos que somos responsáveis pela extinção da sombra pelo herói, nossa luz interior, acesa por nossa capacidade de amar.

O endeusamento dos médiuns no tempo e no espaço e sobretudo nas casas espíritas,
é fruto desse desejo de milagre, da intervenção espetacular do mundo espiritual
para resolver nossos problemas. Uma varinha mágica transformaria nosso sofrido
planeta em um mundo de paz. A guerra e o sofrimento desapareceriam, não devido
ao nosso amadurecimento e trabalho, mas por processos misteriosos.

Livros que apresentam anjos, viagens libertadoras até caminhos especiais, super
heróis, vendem mais do que qualquer outro no mundo todo. Nessa linha surgiu um
livro: “Crianças índigo”, trazendo seres especiais, com o corpo energético azul, prontos
a acabar com os problemas do nosso planeta que, mesmo azul, não conseguiu resolvê-los. Alguns dizem que os fumantes ficam com o perispírito azul, o que mostra que a cor não é tão favorável quanto imagina o casal que criou a teoria absurda das crianças índigo.

O interessante é que os espíritas, os últimas convidados da parábola do Festim de Núpcias, ficaram apaixonados pelas crianças azuis. Ah! Finalmente seríamos salvos de nós mesmos; não pelo sangue de Jesus, nem pelos espíritos de luz que nos protegem, estimulando-nos ao desenvolvimento espiritual... Não, apenas um grupo de espíritos vestidos de azul (minha sorte
então mudou), que começariam auxiliando os pais na grande transformação do mundo
de provas e expiações para mundo feliz.

Políticos corruptos, profissionais incompetentes, egoísmo e orgulho, seriam varridos
da Terra simplesmente com o trabalho de um punhado de crianças e adolescentes especiais.
Onde está esse exército de seres luminosos e azulados? Entre os monges tibetanos,
alguns tão necessitados? Escondidos no Amazonas? Esperando com seus olhinhos espertos e suas flechas embebidas na essência do amor, o momento de atingir os habitantes ainda necessitados moralmente desse planeta da cor do céu? E o que aconteceria então? Todos se transformariam em anjos e toda a Terra seria um palco maravilhoso no qual permaneceríamos abraçados, mergulhados em nosso sonho cor do mar. Os pássaros começariam a cantar , os animais irracionais ficariam com os olhos marejados pela emoção e até as serpentes, antes venenosas, ficariam dóceis, amorosas.

Se foi pela ação de Eva que perdemos o paraíso, agora as crianças índigos o devolverão; sentemos e esperemos que o milagre em breve virá. Como diria Raul Seixas, “sentados, com a boca cheia de dentes esperando a mudança chegar...”

Mas os definitivamente rebeldes, aqueles que se negarem a tingirem o seu perispírito de azul, o que acontecerá com eles? Ah! Existe em outro livro, que alguns espíritas adoram, que apresenta o “Grande Planeta Chupão”, que, com um aspirador, os transportará para um mundo atrasado.
Perderão o paraíso que espera o azulado , não conseguindo a libertação trazida pelo exercito índigo. Enquanto isso nós, os bons, mas ainda não azuis, permanecemos sentados, não fazendo nada porque os meninos vieram para mudar; que eles façam tudo.

Mas onde estão? Saí a procurá-los. Não os encontrei nos lares economicamente fartos, nas mansões maravilhosas de Brasília ou de outro Estado. Também não estavam nos lares da classe média, menos ainda nas consideradas escolas boas de todo o Brasil.

Será que estariam na periferia? Nas favelas? Onde estariam escondidos os nossos jovens azuis, responsáveis pela transformação milagrosa da Terra? Não os encontrei.

Crianças mais desenvolvidas intelectualmente do que as gerações anteriores sim, mas necessitadas moralmente, deprimidas, angustiadas, rotuladas de hiperativas e outros nomes especiais, precisando urgente da verdadeira educação, que convencionamos chamar de espírita, que vem já desde os druidas, antes de Jesus. Necessitam do despertar de consciência do Mestre de Nazaré, do “amai o próximo como a si mesmo”.

Vi crianças e jovens desesperançados, olhos vermelhos, cambaleantes, dopados por drogas várias, morrendo como se fossem pássaros frágeis. Encontrei olhos vazios de amor, frios, cruéis, empunhando armas, tentando conseguir a ferro e fogo o amor que lhes falta e que julgam estar nas roupas caras ou nos tênis importados. Enxerguei um exército de meninas grávidas, incompetentes para lidar com as próprias emoções e incapazes de educar os filhos que carregam
no ventre. Ouvi filhos gritando com os pais e assustada percebi que os responsáveis pela educação desses reencarnantes não sabiam o que fazer. Encontrei nos noticiários filhos matando seus pais ou avós. Mas onde estavam os índigo? Teria o “Planeta Chupão” ficado confuso e onduzido o grupo especial para planetas primitivos? Será que o comandante índigo teria pensado que a Terra não teria mais jeito? Onde estão nossos índigos?

Continuei minha procura e encontrei crianças e jovens normais, muito inteligentes, porque vieram trabalhando as suas possibilidades de pensar através dos séculos, mas com necessidades morais, exigindo amor e trabalho dos pais. Senti a importância da apresentação adequada do trabalho de Jesus para o despertar da força interior; das explicações dos livros básicos de Kardec sobre o “Orai e Vigiai” do Cristo. Sorri feliz, lembrando que o futuro será de luzes, não por milagre, nem pela presença de grupos azuis ou amarelos ou vermelhos, mas pela educação exercida através do esclarecimento da Doutrina Espírita, na conscientização de que todos somos especiais, criados da mesma forma por Deus, necessitando do esforço próprio e da educação que dilata a capacidade de amar, a humildade e extingue o orgulho e o egoísmo...

Heloísa Pires

Edição Especial do jornal Mensagem - Criança Índigo

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